Por terras catalas... (cont.)
Dei por mim a pensar, seguido de um sorriso: "O que é que tenho de comprar hoje para o jantar? Tenho de comprar um tupper-ware para guardar o que restar."
Pode parecer um pouco tolo a muita gente ou mesmo infantil ou imaturo mas a verdade é esta. Foi aqui que me deparei pela primeira vez com o facto de ter de cozinhar e comprar para comer.
Viver com a mae a vida toda tem coisas boas e mas... Mas as comidas da mae... oh saudades...
A esta pequena amostra de lida doméstica seguiu-se também lavar roupa.. Felizmente tudo se manteve com o mesmo tamanho e cor. Sorte de principiante talvez.
Assim prossuguiu a minha vida. Passeando e trabalhando umas horas todos os dias a distribuir flyers (aborrecido mas necessario dada a minha situacao) e assim consegui algo que agora vejo como muito positivo. Sai de Barcelona sem ter gasto um centavo que nao tivesse sido ganho.
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Um dos meus maiores problemas foi, sem duvida, o de lidar com o nao planear o dia.
Saido de 2 meses intensivos de estudo para a faculdade, ter perspectivas de dias nao planeado é deveras bizarro.. Para mim chegou a ser depressivamente desconfortavel.
Até que comecei a andar sem rumo e fiquei muitas tardes no parque da Ciutadella, que a primeira vez me pareceu aborrecido por nao ter nada de bonito para ver mas que quando me sentei a ler ou escrever ao som de guitarras e jambés percebi que era um sitio de confluencia de muitas pessoas diferentes com backgrounds muito diferentes. Pessoas ao meu alcance.
Talvez ai esteja uma grande diferenca entre um turista e um viajante, a de olhar para alem das fachadas. Ver as pessoas e espreitar um pouco para dentro delas...
Assim passei varias tardes sentado na relva com o meu guitarrista pessoal.
Neste mesmo parque tive um dos episodios mais lindos da minha estadia em Barcelona. Num dia de escrita, como tantos outros, comecou a chover. Chuva leve mas suficiente para perceber que mais viria. Foi entao que eu e o guitarrista fomos para dentro do coreto, onde estavam ja 2 guitarras vibrantes e um dancarino de sapateado.
A chuva nao perdoou. E enquanto esta atacava mais e mais gente este as pessoas decidiam sob pressao sair ou procurar abrigo no coreto. Todos os que optaram pelo segundo caminho tiveram um momento provavelmente tao unico como foi para mim. Durante 3 horas choveu como ha muito nao acontecia na Catalunia e naquele coreto, completamente afastado de toda a Catalunia, estavam 40 pessoas a ouvir guitarra, sapateado, uma garrafa com areia e percursao na madeira com maos nuas.
Sao esses momentos que nos sao dados a escolher como viver. Eu, que aos poucos arranco o corpo da timidez de recem-iniciado nas viagens, la fui metendo conversa e retribuindo quando a iniciativa partia de outros.
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Outro momento a recordar e a aprender:
Manha (12h i.e), o guitarrista decide ir correr e apesar de nao gostar de correr, decido fazer companhia. Talvez por nao imaginar planos melhores numa daquelas manhas de dificuldade em lidar com o nao planeado.
Chegados à meta, a horrorosa praia de Barcelona, vamos a um banho e umas bracadas.
O guitarrista avanca para duas raparigas e pergunta se pode deixar as coisas perto delas. Respondem que sim. Agua com eles!
Voltamos, eu um pouco atras e esta ele na conversa com elas. Junto-me à conversa e assim se estabelece mais um contacto. Uma vez mais, o meu corpo descola-se aos poucos da timidez e passados minutos ja estou completamente na desportiva e ficam combinadas saidas futuras.
Dentro de alguns dias vou a Frankfurt. Ganhei uma amizade e um contacto muito conveniente pois tenho onde ficar em Frankfurt.
Se calhar o guitarrista deu-me o chuto no cu para desencalhar um pouco.
No entanto, tanto quanto o mérito pode vir para mim, decidi continuar a conversa.
Basta optar e seguir o coracao. Por vezes queremos estar sozinhos. Por vezes queremos perguntar: "E tu, de onde vens?"
Pode trazer coisas boas. Na pior das hipoteses nao nos identificamos com a pessoa e por ai fica, atracada com cordas, a relacao. Nada a perder, muito pelo contrario.
Pode parecer um pouco tolo a muita gente ou mesmo infantil ou imaturo mas a verdade é esta. Foi aqui que me deparei pela primeira vez com o facto de ter de cozinhar e comprar para comer.
Viver com a mae a vida toda tem coisas boas e mas... Mas as comidas da mae... oh saudades...
A esta pequena amostra de lida doméstica seguiu-se também lavar roupa.. Felizmente tudo se manteve com o mesmo tamanho e cor. Sorte de principiante talvez.
Assim prossuguiu a minha vida. Passeando e trabalhando umas horas todos os dias a distribuir flyers (aborrecido mas necessario dada a minha situacao) e assim consegui algo que agora vejo como muito positivo. Sai de Barcelona sem ter gasto um centavo que nao tivesse sido ganho.
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Um dos meus maiores problemas foi, sem duvida, o de lidar com o nao planear o dia.
Saido de 2 meses intensivos de estudo para a faculdade, ter perspectivas de dias nao planeado é deveras bizarro.. Para mim chegou a ser depressivamente desconfortavel.
Até que comecei a andar sem rumo e fiquei muitas tardes no parque da Ciutadella, que a primeira vez me pareceu aborrecido por nao ter nada de bonito para ver mas que quando me sentei a ler ou escrever ao som de guitarras e jambés percebi que era um sitio de confluencia de muitas pessoas diferentes com backgrounds muito diferentes. Pessoas ao meu alcance.
Talvez ai esteja uma grande diferenca entre um turista e um viajante, a de olhar para alem das fachadas. Ver as pessoas e espreitar um pouco para dentro delas...
Assim passei varias tardes sentado na relva com o meu guitarrista pessoal.
Neste mesmo parque tive um dos episodios mais lindos da minha estadia em Barcelona. Num dia de escrita, como tantos outros, comecou a chover. Chuva leve mas suficiente para perceber que mais viria. Foi entao que eu e o guitarrista fomos para dentro do coreto, onde estavam ja 2 guitarras vibrantes e um dancarino de sapateado.
A chuva nao perdoou. E enquanto esta atacava mais e mais gente este as pessoas decidiam sob pressao sair ou procurar abrigo no coreto. Todos os que optaram pelo segundo caminho tiveram um momento provavelmente tao unico como foi para mim. Durante 3 horas choveu como ha muito nao acontecia na Catalunia e naquele coreto, completamente afastado de toda a Catalunia, estavam 40 pessoas a ouvir guitarra, sapateado, uma garrafa com areia e percursao na madeira com maos nuas.
Sao esses momentos que nos sao dados a escolher como viver. Eu, que aos poucos arranco o corpo da timidez de recem-iniciado nas viagens, la fui metendo conversa e retribuindo quando a iniciativa partia de outros.
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Outro momento a recordar e a aprender:
Manha (12h i.e), o guitarrista decide ir correr e apesar de nao gostar de correr, decido fazer companhia. Talvez por nao imaginar planos melhores numa daquelas manhas de dificuldade em lidar com o nao planeado.
Chegados à meta, a horrorosa praia de Barcelona, vamos a um banho e umas bracadas.
O guitarrista avanca para duas raparigas e pergunta se pode deixar as coisas perto delas. Respondem que sim. Agua com eles!
Voltamos, eu um pouco atras e esta ele na conversa com elas. Junto-me à conversa e assim se estabelece mais um contacto. Uma vez mais, o meu corpo descola-se aos poucos da timidez e passados minutos ja estou completamente na desportiva e ficam combinadas saidas futuras.
Dentro de alguns dias vou a Frankfurt. Ganhei uma amizade e um contacto muito conveniente pois tenho onde ficar em Frankfurt.
Se calhar o guitarrista deu-me o chuto no cu para desencalhar um pouco.
No entanto, tanto quanto o mérito pode vir para mim, decidi continuar a conversa.
Basta optar e seguir o coracao. Por vezes queremos estar sozinhos. Por vezes queremos perguntar: "E tu, de onde vens?"
Pode trazer coisas boas. Na pior das hipoteses nao nos identificamos com a pessoa e por ai fica, atracada com cordas, a relacao. Nada a perder, muito pelo contrario.
2 Comments:
Só para dizer que já por aqui passei...Prometo voltar com mais calma para mergulhar a sério neste teu cantinho... Beijo grande**
Uma pessoa perde-se ao ler tudo isto e fez-me pensar em imensa coisa, sobretudo esta parte onde deixo o meu comentário =)
Fico muito contente por as coisas se estarem a encaminhar finalmente e até o conseguires expressar tudo isto é óptimo, realmente escrever é assim brutalíssimo! E tas a ver, imensas coisas positivas no meio de um "poço" hehe!
Ao ler tudo isto, percebi mais uma vez a enorme força que tens dentro de ti e que te torna tão "especial" (as palavras às vezes podem ser tão ambíguas...) Já tinha entendido isso no dia em q percebi a tua "coragem para voar" e até mesmo por te atreveres a fazê-lo...um dia há-de chegar a minha vez ;) O resto tu já sabes!
Só para acabar vou transcrever um excerto que adorei:
«Basta optar e seguir o coracao. Por vezes queremos estar sozinhos. Por vezes queremos perguntar: "E tu, de onde vens?"
Pode trazer coisas boas. Na pior das hipoteses nao nos identificamos com a pessoa e por ai fica, atracada com cordas, a relacao. Nada a perder, muito pelo contrario.» (como eu te entendo, é exactamente o que penso...)
Quanto às bicicletas...sim, um dia Lisboa vai ser assim =P e no outro dia descobri uma sensação tão boa: apanhar chuva nos pés!! São estas pequenas coisas q nos preenchem, né?
Bem, je m'en vais! Já sabes que podes contar comigo e que estou aqui a torcer por ti...Foi bom ter-te conhecido e é bom continuar a conhecer-te :)
Fica bem, sempre com um sorriso.
Beijinhos,
Filipa S (ou pipa, como quiseres)
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