8.10.06

Capítulo XI – Mudar pessoas, melhorar o mundo…

- Então quando eu chegar a Zürich eu mando-te um mail com notícias.. A ti e a mais umas pessoas que não sabem nada de mim há uns tempos..

- Mas porque não crias um blog? Adicionas notícias, fotos e cenas e o pessoal vai vendo.. Escusas de estar a escrever a toda a gente..

E assim começou…

Assim foi o momento de concepção deste blog da minha Viagem.

Um dia depois, depois de 1200km de boleia até Zürich em 15h, sentei-me na cama da Nina à 1h30 e escrevi a primeira entrada de um blog que viria a crescer de aí em diante.

Crescer em tamanho e em maturidade…

Nasceu então aquele que é a primeira forma escrita que encontrei de comunicar com as pessoas. Não sei quem o lê, não sei quantas pessoas e dessas tão pouco sei quais as que realmente tiram um significado das palavras que deixo correr… Não obstante escrevo. Mesmo que para uma só pessoa pensar um pouco em algo com o qual nunca tinha sido confrontada. Por uma pessoa basta e sinto em mim: Missão Cumprida.

Uma semana em Zürich na qual o passeio não era prioridade mas sim falar com as pessoas que perguntavam por mim. Posts escritos até às 4 ou 5 da manhã (como se pode ver pela hora a que deram entrada..). Horas sentado frente ao portátil para dar notícias e correr pelas palavras que jorravam pelos meus dedos.

Começou por ser isso mesmo… notícias.

Mas com o passar do tempo desta minha viagem algo aconteceu.. Algo muito forte tomou lugar.. Algo que eu não consegui parar. Algo para o qual eu já me estava a preparar há algum tempo e que enfim veio ao meu encontro (ou que procurei eu). Muito da minha Vida mudou, e está a mudar, com esta viagem e com as consequências que ela trouxe consigo.

Também o blog mudou.. O tipo de letra era o mesmo, o fundo preto como sempre, as fotos maiores ou menores mas não parecem ter mudado muito.. O que mudou então neste blog?

Mudou a mensagem. Mudou o sentido do vento. Mudou a força da tempestade. Mudou a minha fala. De alvíssaras em tom de gazeta passou a grito silencioso. Grito de Vida. Grito de Liberdade. Grito de Despertar. Grito de Agora! Já!

(lembro agora o “Despertar para a Ciência” da Gulbenkian.. pois bem.. para mim é “Despertar para a Vida”… quem sabe se não uma boa hipótese para o nome de um futuro blog)

Voltei há quase duas semanas e as consequências sentem-se e continuam a rebentar em mim. Começando por umas mais imediatas, como a mudança do meu meio envolvente. Passando para outras mais profundas ao comunicar com os que me rodeiam e comigo ao mesmo tempo. Voltei há duas semanas. As consequências explodem por dentro.

Esta viagem de uma maior Viagem trouxe-me muita coisa. Como já escito deu-me oportunidade de visitar vários sítios, sentar-me neles e ver as pessoas passar e a população local enquanto eu disfrutava um gelado. Mostrou-me também pessoas novas e permitiu rever grandes amigos. Algumas fotos (mais de 500), alguns cheiros e sabores. Sons de outros lados, música, ritmos, danças. Sol, chuva, nuvens, calor infernal e fresquinho bom.

Sim, pode se dizer que esta viagem trouxe-me muita coisa interessante.

Mas esta viagem, além disto, trouxe-me muito mais, em diferentes campos.

Além de apelar aos sentidos defrontou-me, confrontou-me, desafiou-me e abanou o mundo que construíra até então. Abalou o meu mundo como eu o conhecia. Pôs o meu mundo à prova. Quando estamos acomodados e somos abanados, o melhor que pode acontecer, e de que muita gente tem medo, é algo partir por dentro. Uma tábua que sustenta o nosso ser, partida em cacos. Abalar o nosso mundo e fazer-nos olhar para ele de fora. Então questionamos a nossa realidade. Queremos substituir a tábua? Queremos repôr o que lá estava? Ou queremos aproveitar o abalo para construirmos uma casa nova? Sem questionar a nossa realidade não sabemos nunca se estamos nela por consciente e fundamentada opção ou somente por hábito e inércia.

Um dos meus pilares foi destruídos.. Durante dois meses a madeira foi macerada. Não, o betão foi quebrado e caiu. Caiu sob a força do coração como o muro de Berlin sob a força dos berlinenses. Foi partido, pedaço a pedaço, em parte sem eu notar. Quando me apercebi do que se passava por dentro assustei-me. E agora? Perdi um dos mais importantes pilares da minha vida presente, passada e futura. E agora?

Esta viagem fez-me crescer à velocidade explosiva com que um feijão germina e cresce. Diferenças de dia para dia à medida que se olha para ele…

Direi que esta viagem, além de todas as imagens, sons, sabores, toques e odores, mostrou-me muito mais por dentro. Para dentro, por de dentro, nas entranhas. Vísceras que se viraram e reviraram sem encontrar posição confortável. Lágrimas boas e lágrimas más. Sorrisos com pequenas demonstrações de alegria num sinal de trânsito ou num supermercado. A cabeça que rebentou tantas vezes e que, por vezes, não aguentou não conseguindo (ou querendo) evitar que as lágrimas se libertassem.

Não, esta viagem não foi um InterRail em que se vêem 14 cidades num mês. Esta foi uma viagem visceral. Uma viagem por dentro de mim. Auto-conhecimento procurado em muitos veículos. O melhor que encontrei e que mais fez sentido em mim foi este: viajar. Uma viagem há muito desejada. Há muito preparada não estando talvez preparado para tanto de uma vez. Mas que procurava, lá isso procurava.

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E o que tirei eu desta viagem? Que tirei eu do contacto com pessoas tão diferentes de mim e com passados tão diferentes? Que tirei eu dos meus feitos?

Volto e olham-me: Chegou aquele que nadou contra a corrente. Voltou aquele que foi e viveu um sonho.

Três coisas distintas mas talvez indissociáveis.

Primeira: aprendi a estar sozinho. Aprendi a lidar com as coisas sozinho. Tive que aprender. Da pior, melhor ou até da única forma possível. Sozinho. Aprendi à porrada. Aprendi de forma que a única escapatória seria voltar. Três dias depois de chegar a Barcelona equacionei voltar. Algo me agarrou lá. Eu. Um novo eu. Eu sozinho.

Segunda: percebi que os sonhos são realizáveis. Que só depende de nós concretizá-los. Talvez com algumas condicionantes ou limitações mas se quisermos criamos os meios para que um sonho passe a um facto.

Terceira: Devo fazer o que me faz feliz. Como escrito na “História Interminável”, FAZ O QUE QUISERES. Não é, tia maluca?

O que mais se ganha ao viajar sozinho por sítios diferentes é uma coisa que nunca se consegue no “normal” círculo de pessoas com quem vivemos e convivemos. No meu caso, vivo rodeado de pessoas que andaram na escola relativamente perto de mim. A maioria anda na faculdade. Alguns com interesses políticos, outros com interesses culturais, e por aí em diante. Mas e perto de mim tenho alguma pessoa com um passado muito diferente do meu? Não. Se calhar não procuro ou não encontrei ainda. Possível. Mas estando num círculo é mais cómodo ficar nele. Estando sozinho é impossível. É-se forçado a dar um passo para fora e olhar à volta. Ouvir à volta. Falar à volta.

Ou ficar fechado. E eu não quero ficar fechado. Eu tive coragem para voar.

Em Barcelona estive a viver com 3 pessoas da minha idade que aos 18 ou 19 saíram de casa para viajar e parar aqui ou ali para trabalhar. Fugiam de alguma coisa? Talvez. Parecem-me existir dois tipos de viajante: os que fogem de algo e os que buscam algo. Claro que entre o preto e o branco existem muitos tons de cinzento.

Eu busco outros mundos e culturas. Busco-me nessas culturas. Procuro encontrar-me como me encontrei nesta viagem. Sim, eu estava preparado. Só não esperava tanto.

O contacto com estas três pessoas fez-me parar e pensar. Olhar para trás. Eu estou desde os 6 anos até agora, na escola (mais ou menos), agarrado a livros. Eles viajam pela América do Sul e eu leio. Eles vivem na Austrália (com o Pacífico a separar de casa) e eu estou num laboratório. Eles largam o comodismo parisiense para ir para o México comer com as mãos e eu sento-me na secretária rodeado de apontamentos e fotocópias.

Isto deu-me que pensar. Se calhar para algumas pessoas isto é aceitável, tolerável, recomendável e até desejável. Para mim faz-me pensar. Porque eu tenho vontade de conhecer mais culturas e viajar está directamente implicado nisso.

Eles optaram e foram.

E eu? Que opções tomei eu nos últimos tempos?

A última escolha relativamente apaixonada (mas também um pouco por exclusão de hipóteses) foi ir para Biologia. Mesmo dentro de Biologia pensei seriamente, a ponto de me fazer tremer com o turbilhão que corria dentro de mim, em mudar de curso… E que outros cursos? Medicina, Enfermagem, … Porquê? Pessoas!

Porque Biologia, ou pelo menos em grande parte a que decidi seguir, é feita de livros, bancada e pipetas. Se é fascinante? É, sem dúvida alguma. É das coisas mais lindas que existe para mim à face da Terra.

Decidi então ir para Biologia Microbiana e Genética. Porquê? Porque de entre as opções era a que me parecia mais adequada aos meus gostos e interesses.

Notaram a palavra “adequada”? E a paixão? E a loucura? E o fogo por dentro de uma criança que diz: “Quando for grande quero ser jogador de futebol?” Paixão? Não, nem por isso.

Isso já não sinto há algum tempo. Alguns professores aproximam-me desse ponto. Mas o amor e a paixão têm que vir de dentro. Não dos pares que nos tocam no dia-a-dia. Podem influenciar claro mas de resto é visceral.

Rumo traçado: média de 16, doutoramento logo após acabar o curso. Início perfeito para entrar no mercado de trabalho.

Certezas: uma só. Sair de Portugal. Ir viver para fora.

Queria Erasmus. Revelou-se impossível. Mestrado fora? Sim. Mas qual o verdadeiro motivo? O que me puxava? O sair, a cultura diferente, os ares, as gentes, as línguas.

E a Biologia? Não havia certezas relativamente à Biologia? Haveria, se ela realmente me preenchesse. Não sendo o caso, serve de desculpa ou justificação.

Sempre gostei de Biologia. Sempre me fascinou. Fascina-me todos os dias. As pequenas maravilhas do mundo vivo embriagam-me. Mas alguma vez sonhei com ser um investigador? Não, acho que não. Até me assusta um pouco imaginar-me a vida toda na bancada. Talvez passageiro. Quem sabe.

Mas então porque escolhi eu este percurso? Porquê um doutoramento logo a seguir? Porquê investigação?

Porque é o recomendável. Porque é aí que está o prestígio. O prestígio que a máquina do Ocidente reconhece.

Sair da escola, escolher um curso, acabar o curso, pós-graduações, mercado de trabalho, mercado de trabalho, mercado de trabalho.

Muita gente não pára para questionar, para sonhar. Infelizmente muita gente não tem a sorte de ter uma experiência que os abale como eu tive. De ser chocalhado e ser levado a questionar tudo o que tem de mais certo.

A máquina da sociedade impede que paremos. Em outros países não é bem assim. Queremos fazer coisas mas a máquina empurra-nos.

Somos levados a escolher não aquilo que queremos mas o que é suposto. Decidimos por vezes não por vontade própria mas por sermos empurados pela mecânica de uma poderosíssima máquina.


E por que é tao poderosa? Por que não procuram as pessoas os seus sonhos? Porque essa máquina é silenciosa. É subtil. “A melhor maneira de fazer as pessoas não pensarem é pô-las a trabalhar. Levantam-se às 8, entram às 9, saem às 18, jantam e cama. Ah e o pouco tempo que não têm a trabalhar passam-no no carro a stressar ou frente à televisão a estupidificar. Já notaram que quando um café tem uma televisão estão todos virados para ela? Ninguém pensa, ninguém fala, ninguém lê, ninguém é. Simplesmente absorvem o que a televisão mostra como se fossem dogmas.

Para quê pensar se a vida já foi pensada por nós? Só temos que trabalhar e ficar felizes com o aumento ao final de uns anos. Não é isto que a sociedade do Ocidente defende? Produtividade sem sonhos. Um fábrica de salsichas. Uma linha de montagem. Numa linha de montagem nada pode interferir. Os sonhos pertubam demasiado. O melhor mesmo é cumprir ordens e não abanar muito o barco porque se não ainda perco o meu trabalho. E isso é tudo na minha vida.

Quando nos perguntam: E tu Vitor? Diz-me quem és tu? Começamos por dizer: Estudo isto, sou formado naquilo, trabalho nisto.

Será que isso SOMOS nós? Tenho pena de quem se sentir assim. Talvez uma pessoana ignorância feliz mas sem ver mais à frente. Eu não sou o que estudo. Eu sou muito mais. Eu sou EU. Sou o que sonho, sou o que faço, sou quem me rodeia e quem rodeio. Sou uma pessoa no meio de milhões mas uma PESSOA.

As pessoas são feitas de tanta coisa… Tanta coisa que nos constrói por dentro. Não carne e osso mas que nos suporta por dentro. Aquilo que não se vê. Os sonhos, as metas, os sorrisos, a alegria, o amor e o ódio profundo. O rancor, a amizade, as richas e o que vemos quando paramos na rua ou espreitamos acima de toda a gente no bairro alto. Paramos, o tempo pára também e vemos cervejas a passar, trocas de olhares, roupas diferentes, fumo, hormonas, hálitos, gargalhadas, gente. Somos também o que fazemos ser.

Somos o que perseguimos. Somos aquilo por que lutamos. Somos aquilo que nos faz levantar de manhã e a última coisa em que pensamos antes de adormecer. Somos a viagem na América do Sul ou a viagem do quarto à cozinha. Somos nus em casa de janelas fechadas ou não. Somos o sol no corpo de manhã depois de uma noite de borga.

Somos o vento que desarruma o cabelo. Chateados ou felizes com isso.

“Este gajo nunca pára de sorrir” Somos isso mesmo! Um eterno sorriso. Alguém que inveja esse sorriso. Somos felizes. Somos incompletos. Somos sonhadores.

Ou será que isso tudo sou só eu? Mas… tanta coisa ao mesmo tempo? Não era eu alguém tão insignicante no meio de milhões?

Somos tanto e parecemos tão pouco.

E o que fazemos acerca disso? Será que lutamos? Quantas pessoas podem, da sua própria maneira, sentar-se numa cama em Zürich às 2 da manhã, sentir do fundo do seu mais verdadeiro ser e dizer: CONSEGUI! ?

E quantas pessoas têm noção de que estão a ser arrastadas e empurradas? Frente a alguns bares no Bairro Alto todos são empurrados e puxados. Apertados e incomodados. Mas preocupamo-nos com isso? Não. Preocupamo-nos com a imperial que temos na mão. Não pode entornar. Sem ela sentimo-nos incompletos. Engraçado ver isso como analogia para a nossa sociedade. Para a máquina da sociedade. Desde que todos tenhamos uma imperial na mão podem nos empurrar à vontade. Centramo-nos em coisas pequenas enquanto alguém escolhe o sítio para onde vamos a seguir.

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Há tempos sonhava com viajar. Há tempos sonhava com viajar à boleia. Há tempos viajava nos meus sonhos e imaginava-me a fazer voluntariado fora da Europa.

Mas não. Tudo muito bonito mas impossível. Não tenho tempo. Nunca na minha vida próxima terei 3 ou 6 meses para voluntariado. Nem pensar. On with the show. The show must go on.

NÃO!!

Os sonhos fazêmo-los nós. A vida ditamos-la nós. Não somos levados pelo destino. Fazemos o percurso. Viramos onde queremos virar. Paramos quando queremos parar. A estrada divide-se e somos nós quem olha para o mapa e vê para onde quer ir. Depois a boleia leva-nos até onde puder.

Tive dois meses sem essa máquina. Aliás. Quando a máquina me esmagou e não consegui o trabalho entrei em parafuso. Até que percebi que essa era exactamente uma oportunidade para me libertar desta infernal máquina.

Pensamos tudo. Não deixamos nada escapar. Tudo calculado e controlado. Rota traçada. Modo cruzeiro. Em frente sem colocar questões problemáticas. Não é, Pedro? Nada pode sair do nosso controlo.

Porquê? Porque é mais fácil assim. É mais seguro. E nós não lidamos bem com a insegurança. Não lidamos bem com o não saber o que fazer amanhã. Não lidamos bem com o não saber o que fazer quando acordamos. Quantas vezes eu me senti desconfortável quando não sabia o que fazer no enorme dia que se avizinhava. Não sabemos parar. Porque se pararmos temos que pensar. E se pensarmos ainda dá merda.

Aí está a magia da máquina. É essa a máquina que nos puxa, suavemente, para o trabalho todos os dias. É essa a máquina que nos leva na corrente e nos empurrões enquanto nós olhamos para a nossa imperial. É essa a esmagadora máquina que vive dentro de nós desde que nos sabemos pessoas. Desde que vamos para a escola e nos dizem pela primeira vez: “Tens que ter boas notas e ser o melhor da turma” Porque, afinal de contas, só assim podemos ser felizes. Não é? Ou será que não é?

A magia da máquina é essa mesma. Ela não nos fala de manhã. Ela não nos é dita ao longo do dia ou na pausa para café. Ela não está afixada na rua nem é dita na televisão.

Não. Ela é implacável porque vive dentro de nós. Dentro de todos nós mas mais importante que isso, dentro de cada um de nós.

É esse o primeiro passo. É esse o mais difícil. Apercebermo-nos disso. Ter plena consciência disso. De que a máquina vive dentro de nós e nos empurra. Empurra-nos de forma subtil. De forma a que não nos apercebamos dela. De forma a que a nossa imperial seja o centro do nosso mundo e tudo mais não exista, sem ser sequer necessário pôr-nos palas. Nós pômo-las a nós próprios.

É aí que começa o desafio. Eu apercebi-me disso. Eu vi, quando estive fora e de fora que essa máquina apodera-se de nós. Essa máquina faz com que não viajemos. Com que não “percamos tempo”. “O tempo é dinheiro”

NÃO! NÃO PORRA! NÃO!!!!

O tempo não é dinheiro. O tempo é o que nós queremos que ele seja! É isso que todos nós temos que ver. É isso que todos nós temos que perceber. É isso que marca a diferença entre ter noção e não ter. É isso que nos prende, ou não. Aliás, é a isso que nos prendemos, de bom grado.

Essa máquinha é implacável só até se revelar. Até ser descoberta. Porque uma vez descoberta, pode ser parada. Com maior ou menor facilidade mas pode ser parada. Aí já não somos empurrados sem saber. Aí decidimos olhar para a frente, para dentro e à volta ou continuar a olhar para a imperial. Uma vez que tomamos conta dessa implacável máquina cabe a nós ditar o nosso próximo passo. O Homem não é só um ser social. É um ser que se move em manada.

Foi isso que me fez pensar muito. Foi disso que eu falei vezes sem conta. Foi a falar que eu percebi e pensei. Que construí aos poucos o que penso. É a discutir que me chegam as minhas melhores reflexões. Foi a discutir que percebi muito do que escrevi aqui. Fica aqui, guardado para sempre. Para que ninguém se esqueça.

Foi a discutir que pensei nas viagens, na cultura, na sociedade, na máquina do trabalho, nos sonhos. Se não tivesse saído de Lisboa dificilmente teria tido oportunidade de discutir com pessoas tão diferentes. Cá encontraria pessoas presas de “livre” vontade na mesma máquina que eu.

E é essa máquina que eu vou sabotar. É essa máquina que já parou. É essa máquina que começa a ser desmantelada. Peça por peça.

(descansar um pouco.. o cérebro pede uma pausa..)

Na minha faculade (talvez exemplo de muita coisa pela sociedade fora) todos são empurrados para um mestrado. E não só isso. Todos são empurrados para o fazer em Portugal, em Lisboa, na FCUL. É preciso um professor bater o pé para que as pessoas acordem e percebam a importância da mobilidade e a oportunidade que Bolonha nos dá para pôr isso em prática. Saiam daqui! Vão ver o mundo! Vão experimentar e se quiserem voltem. Uma coisa vos garanto. Voltarão diferentes. Com ideias novas. Com vivências diferentes. Pessoas diferentes! Acima de tudo, pessoas diferentes, mais fortes e experientes. Contacto com pessoas diferentes. Se calhar voltam a amar ainda mais o vosso país. Se calhar a dar valor que não davam. Tudo isto e muito mais.. mas VÃO!

Como tal comecei a procurar mestrados. Ou melhor.. comecei a procurar cidades e via se nessas havia mestrados. SE.

Percebi que o que quero não é o que a máquina me mostra. Percebi, por ver de outras pessoas, que existem outras opções. E dessas opções a que eu quero agora não é a de fazer um mestrado.

Quero pessoas. Quero ser humano. Sei que o posso ser em paralelo com qualquer profissão. Mas eu não quero paralelo. Eu não quero perpendicular. Eu não quero tangente. Eu quero em pleno. Do menos aos mais infinito. Eu quero trabalhar como ser humano e para seres humanos. Quero me entregar a pessoas.


”Quando sinto, quero tudo. O pouco não me chega.” (filho de peixe sabe nadar)

É isso que eu quero. Era isso que eu procurava mas punha sempre a máscara da Biologia. Quando escrevia no Google “MSc Molecular Biology Berlin” o que devia lá estar escrito era “Berlin Berlin Berlin Berlin”. Mas eu demorei a perceber isso. Felizmente não foi tarde demais.

Decidi dedicar (pelo menos) um ano, ou parte de um ano, da minha Vida a voluntariado em países de terceiro mundo. Decidi entregar-me a quem precisa.

É necessário que nos questionemos enquanto biólogos (ou pessoas no geral em assuntos diferentes): queremos pesquisar para a saúde humana? Ou queremos defender as espécies animais e vegetais que o Homem destrói na sua existência? Queremos estudar para melhorar a vida daquele que destrói? Queremos pesquisar para curar o cancro do cólon ou da mama das mulheres ocidentais quando por cada mulher dessas que morre de cancro milhões mais morrem de SIDA ou de fome? Queremos pesquisar para tornar maior a longevidade do Homem Ocidental ou queremos ajudar a África sub-sahariana onde estão 70% dos contaminados com SIDA do mundo? Queremos pensar no Homem Ocidental e nos seus jogos de guerra contra o terrorismo ou pensar na metade da população mundial (mais de 3 mil milhões de pessoas) que vive diariamente com menos de 2 euros? Temos direito a um telemóvel e a gastar gasolina nos nossos carros? Temos direito a ter TV Cabo e a uns ténis All-Star?

Temos direito a quê quando metade da população mundial não tem 3 refeições por dia?

Temos o DEVER de nos questionar enquanto pessoas (e biólogos) e questionar para que queremos realmente contribuir. Temos o DEVER de parar e pensar. Temos o DEVER de pensar e AGIR.

Estamos entre os 25 países mais ricos do mundo. São mais de 200 no Mundo inteiro e a nossa maior preocupação é se chegamos a casa a tempo de ver o “Sex and the City”?

E é isso que eu quero fazer. É isso que eu queria há muito fazer. Era um sonho como era viajar à boleia. Um outro sonho que eu via distante. Desejado mas improvável. Não! É tão provável quanto eu quero que seja.

Ao longo do último ano tenho vindo a trabalhar para pagar na íntegra o meu Erasmus. Mudaram os planos, virou-se o dinheiro para o mestrado.Vejo agora que esse dinheiro, como qualquer dinheiro, deve ser para cumprirmos os nossos sonhos. Talvez o use num programa de voluntariado, que por vezes são caros. Antes disso procurarei programas não demasiado caros.

Vou dedicar parte da minha Vida àqueles que precisam dela. De amor e atenção. Vou para lá para ajudar e ser ajudado. Ensinar e aprender. Provavelmente aprender muito mais do que ensinarei. Ser ajudado muito mais do que ajudarei.

Melhorar um pouco mundo no campo. O mais depressa possível.

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Uma vez mais, em conversa aprendo muito. Muitas conversas alimentam a mente e o coração. Quando não encontramos respostas dentro de nós temos que procurar fora.


Sim Filipa, quando a resposta não está dentro de ti e as respostas que dás não são suficientes para solucionar os teus problemas, está na hora de procurar fora de ti e procurar ajuda mesmo que não pedindo. Não somos auto-suficientes nem crescemos ou evoluímos se ficarmos sozinhos na nossa esfera. Para vivermos e tirarmos partido da Vida em pleno temos que visitar outros sítios e conhecer pessoas diferentes.

Uma vez mais em conversa.

Obrigado Patraquim.

Percebo que a Biologia não é tão egoísta quanto isso. Sim, os efeitos da investigação pura são morosos. Importantes não obstante. Sim, se calhar é na bancada que se descobre a cura para a SIDA. Sim, vejo mais sentido agora naquilo que persigo. Todas as ferramentas são uma arma se forem utilizadas correctamente, não é Pedro?

Sim, as conversas contigo e com tantos outros têm me feito crescer e ver.

Sim, é verdade que gente com vontade e força e amor para dar há muita. Tanto cá como em África. Mas sim, tens razão. Falta gente qualificada no terreno. E se compararmos quantas pessoas podem ajudar no campo com quantas pessoas podem procurar uma cura para a SIDA na bancada vejo que estou numa posição muito previligiada e talvez seja meu dever também contribuir para o mundo desta minha forma. Como muitos outros não podem. Estou a estudar numa universidade num dos 25 países mais ricos do mundo. Tenho uma oportunidade que muitos não têm e como tal é da minha responsabilidade tirar o melhor partido desta fascinante e única oportunidade.

Todas as ferramentas podem ser uma arma se forem utilizadas correctamente.

De repende dou mais sentido à minha vida enquanto estudante de Biologia.

Não obstante, quero ir para o terreno. Quero ver com os meus olhos. Quero ajudar com as minhas mãos. Quero contribuir com algum imediatismo para os problemas dos outros. Quero ajudar. Posso ir para o terreno ensinar as pessoas a protegerem-se do HIV. Posso fazer com que mais uma criança prefira a escola às ruas da droga. Posso ajudar. Quero mudar um pouco do mundo. Quero dar ao corpo ao manifesto. Mais um corpo para ajudar. Mais um sorriso para melhorar a Vida daqueles que realmente precisam. Daqueles que não dizem que têm direito a um livro ou a um bolo ou a umas férias. Daqueles que não sabem sequer o que isso é. É a esses que eu quero estender a mão e ajudar com um sorriso.

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Numa conversa uma amiga disse-me que sonha como eu sonho. Mas nunca teve coragem para voar. Que nunca teve um exemplo em que se apoiar. Alguém a quem perguntar: “E o que devo fazer? E o que devo não fazer?”

Se ninguém nos falar de pêssegos, se nunca virmos pêssegos, se nunca cheirarmos ou saborearmos pêssegos, é-nos impossível pensar neles. Os pensamentos e as ideias não surgem do vazio. Surgem num contexto. Com uma base passada.

É isso que essa minha amiga buscava.

Foi isso que eu encontrei no encontro com a Kinga (ver links sugeridos) e no encontro com o trio com quem vivi em Barcelona. Foi esse o premir do gatilho, o desencadear da bomba dentro de mim.

É isso que as pessoas precisam por vezes. Muitas pessoas não escolhem, simplesmente vão para o que conhecem. Não por serem felizes em pleno, simplesmente por não conhecerem mais. Se calhar existem opções com as quais seriam muito mais felizes mas sem as conhecer é-lhes impossível criá-las do nada. Nada se cria, tudo se transforma.

É essa a missão deste blog.

O que deixo aqui não passa de um testemunho. De uma opinião. De um pedaço de uma Vida. Que importância tem isso na escala temporal geológica? Que relevância tem isso no século XXI? De que importa isso para os 6 mil milhões de pessoas no mundo? Nada, talvez.

Mas serve para mostrar que isto É POSSÍVEL! Isto aconteceu no ano 2006. Esta viagem começou no dia vinte e cinco de Julho de dois mil e seis, com todas as letras e números. Nesse mesmo dia. Saí de Barcelona no dia vinte de Agosto de dois mil e seis. Cheguei a Lisboa no dia vinte e um de Setembro de dois mil e seis. Sim, durante um mês eu estive a viajar, na estrada, à boleia. Nunca antes conheci um português que o tivesse feito. Talvez ninguém do meu “círculo” tivesse conhecido. Mas hoje eu digo e repito as vezes que forem necessárias: ACONTECEU! É POSSÍVEL! É REAL! Porque eu quis que assim fosse e porque a força da minha vontade tornou o sonho realidade.

Que este seja o clic para muitos. Que este seja o clic como foi para mim toda esta experiência. Que isto desencadeie dentro das pessoas um questionar e pôr em causa. Uma comichão e um desconforto. Esse desconforto facilmente é abafado se esquecermos tudo e nos concentrarmos de novo na nossa imperial mas é esse desconforto que nos faz questionar e ver de fora. Se estamos desconfortáveis é porque algo não está bem. O quê? Dissecar, perceber, ponderar, apercebermo-nos de que algo está errado ou de que algo não foi escolhido por nós ou se foi não por paixão mas porque é o recomendável.

Se é este o teu caso, AGE! Mexe-te. Faz acontecer. Não fiques no sofá a estupidificar! Já! Agora!

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Questões finais relativamente à viagem que me foram colocadas várias vezes:

- E não é perigoso viajar à boleia?

Quanto ao perigo…

Não, não é perigoso.

Existe perigo e existe algum fundamento no receio que se sente. É um facto. Mas se esses fundamentos justificam o enorme medo que se tem das viagens à boleia? Não. São super exagerados, desmedidamente multiplicados…

Sim, morreu uma alemã em Setembro de 2005 na Nova Zelândia porque apanhou boleia com a pessoa errada. Sim, talvez pudesse morrer uma pessoa nas estradas de Portugal ou por qualquer uma das estradas pelas quais passei. É uma possibilidade. Existe uma certa probabilidade de isso acontecer.

Tal como existe uma certa probabilidade de morrermos na estrada quando seguimos de carro, ou de sermos atropelados na rua, ou esfaqueados numa discoteca, ou alguém raptar a nossa criança num parque. Sim, essa possibilidade existe. Mas será que é isso que nos leva a não sair à rua? Ou a não andar de carro? Ou a não nadar nas praias? Quantas pessoas morrem a conduzir carros e quantas a viajar à boleia? Mais importante.. Quantas pessoas morrem ou são vítimas de qualquer tipo de moléstia enquanto viajam à boleia e quantas não têm problema absolutamente nenhum, viajam lindamente, conversam com a sua companhia de viajem, trocam opiniões ou mesmo criam amizades com as pessoas que lhes dão boleia?

Já alguma vez pensaste nisso?

Já alguma vez sequer isso te passou pela cabeça?

Provavelmente não porque o que te é dito e o que é “imposto” é que deves ter medo das viagens à boleia e que na estrada andam psicopatas. Que tudo é perigoso, que tudo pode correr mal, que os homens são todos loucos, depravados e psicopatas e que se te dão boleia é porque querem alguma coisa.

Sim tudo pode correr mal mas o mais provável é que tudo corra optimamente. Cabe a ti decidir se o queres fazer ou não? Se estás disposto a abdicar do conforto do avião ou do comboio para partir numa fantástica aventura multi-cultural, na qual não controlas todas as variáveis. Lembra-te que, quantas mais variáveis controlares menores são as hipóteses de seres surpreendido. Com a maravilha que é viajar. Com a maravilha que é conhecer novas pessoas e novas culturas e formas de pensar.

Durante meses a suiça com quem eu estive viajou pela América do Sul sozinha à boleia. Ela fez a viagem Zürich-Barcelona e Barcelona-Zürich completamente sozinha e não teve problema absolutamente nenhum. A francesa Ophelie fez o mesmo.. Viajou kilómetros sem fim sozinha à boleia e não teve problema nenhum.. A Kinga atravessou o Médio Oriente sozinha e o Mundo com o namorado e não teve o menor problema com as boleias. Isso diz-te alguma coisa?

“Ah mas é mais perigoso para uma rapariga…” Será? Talvez as raparigas estejam mais susceptíveis a assédio. Verdade. Mas por outro lado muito mais gente dá boleia a uma rapariga sozinha do que a um rapaz. Quantas mulheres sozinhas darão boleia a um homem? Poucas, parece-me. Também alimentadas por um medo enorme e injustificado. E a uma mulher? Acho que pelo contrário, não só darão mais facilmente boleia por não representar uma ameaça como provavelmente terão uma faceta “solidária” e de “irmandade” que as levará a ajudar as suas próximas e desprotegidas.

Por isso pondo as coisas na balança não sei para quem será mais fácil viajar à boleia…

Mas mais importante que este rapaz vs rapariga…

Porquê tanto medo? Qual o motivo que nos leva a recear tanto o próximo? Qual o motivo que leva algumas pessoas a nem sequer olharem quando me dirijo a elas ou ao seu carro se eu levo comigo um sorriso?

Vivemos numa sociedade de medo. Acreditamos que no mundo em que vivemos metade de nós quer lixar a outra metade. Que as pessoas são más por natureza. Que todos querem algo de todos.

Eu não vivi isso.

Basta imaginar um metro cheio de gente.Gente normal. Gente que tem vida, trabalho, filhos, hábitos, manias. Gente normal. Se cada uma dessas pessoas estivesse dentro de um carro a passar por uma auto-estrada e a parar numa bomba de gasolina qual seria a probabilidade de essa pessoa querer fazer mal a alguém?

Eu acredito que as pessoas são boas. Sim haverá pessoas menos boas mas acredito que as pessoas são boas e só não o demonstram porque vivem com medo também.

Eu não acredito que seja perigoso viajar à boleia. Penso que é uma forma fantástica de conhecer. De ver paisagens que ficam por ver de dentro do avião. De ouvir música que fica por ouvir de dentro de um comboio. De discutir opiniões que ficam por discutir dentro de um carro onde viajamos sozinhos.

Mas essa é a minha opinião. E eu decidi viajar à boleia porque para mim isso significava muito e se não o fizesse sentir-me-ia menos realizado. Era um sonho e eu realizei-o. Não fiquei decepcionado. Muito pelo contrário, fiquei maravilhado e voltarei a fazê-lo. Chamem-me louco. Chamem-me o que quiserem. Mas realizei um sonho. E nisso sou uma pessoa mais feliz que outras que ficam sentadas no sofá sem sequer tentarem.

- E não gastaste imenso dinheiro?

Não. Começa por calcular quanto gastas em média durante dois meses onde vives. Ou até durante um mês. Ou até em duas semanas de viagem. Em Lisboa penso que uma pessoa gastaria cerca de 300/400 euros por mês em casa, comida, sair à noite, cafés, petiscos, cervejas no Bairro Alto… Vivendo uma vida confortável, sem excessos em demasia isto é…

Já fizeste contas? Quanto gastas por mês vivendo sozinho (longe da guarida dos pais isto é) em Lisboa?

Pois bem, eu gastei €301,66. Nada mais, nada menos. Se acrescentarmos dinheiro que os meus pais carregaram no telemóvel para falarem comigo este número poderá subir talvez até perto dos €400.

Acabo de perguntar a um amigo meu e ele disse-me que gasta normalmente cerca de €450 num mês normal.

Eu gastei €301,66 em dois meses.

E como?

Viajando à boleia, comprando comida no super-mercado e cozinhando em casa, ficando em casa de gente que conhecia ou que passei a conhecer pelo Hospitality Club (ver links recomendados). Basicamente da melhor forma possível para tentar entrar, entranhar-me, integrar-me na cultura local o melhor possível. Cozinhei para outros e comi o que outros cozinharam (acho que tive mais sorte que eles porque os meus dotes precisam de uma valente afinação).

Além disso enquanto estive em Barcelona trabalhei a distribuir flyers. No dia em que cheguei, a primeira pessoa que se dirigiu a mim foi uma americana que trabalhava para um Irish Pub. Um ou dois dias depois fui ter a esse Irish Pub para me mostrar disponível para trabalhar. Ganhava €6,50 à hora. Cerca de 20-25 euros por dia, dia sim, dia não. Era chato. Era uma seca. Mas era suficiente para pagar comida, bares, museus,e tudo mais. Saí de Barcelona ainda com €60 no bolso.

“Ah mas eu não tenho tempo para parar e trabalhar.”

TENS O TEMPO QUE QUISERES! A VIDA É TUA! Solta-te das prisões! Se realmente o tempo a que te propões viajar é curto, procura um trabalho que não requira compromisso de muito tempo. Este trabalho era combinado para o dia seguinte. Não havia semana que vem… Essa logo se via quando chegasse. É possível. Basta mexeres-te. Ser proactivo.

Então mas não saías de casa?

Errado. Fui a bares, discotecas, museus, passeei, vi, conheci, falei, ouvi, comi comida boas, escutei música boa, entre tantas outras coisas.

Sim, poupei muito em transportes públicos. Grande maioria dos meus passeios foram a pé. 4 e 5 horas a caminhar. Faz parte de mim. A melhor forma de conhecer uma cidade é caminhando pelas suas ruas… É quase como comparar uma viagem à boleia com uma de avião. Mais barato, mais demorado (que é bom porque permite apreciar e saborear as coisas com mais tempo), mais saudável (hummm ok andar de carro não é tão saudável quanto isso.. mas tinha que dizer esta) e permitindo entrar mais na vida das pessoas, das ruas, das mercearias, dos bairros. Sim caminhei 5h sozinho e sem dizer uma palavra num dos últimos dias que estive em Barcelona. Sim caminhei 20km no primeiro dia que estive em Berlin. Parece mau? Diz-me onde queres ir e de certeza saberei melhor que qualquer pessoa que fez o mesmo mas de metro.

Por falar em metro.. Sim por vezes viajei sem pagar. Poucas vezes pois não sabia bem quando nem como apareciam os revisores. Porque em Berlin eles estão à paisana (gente inteligente…) Mas a verdade é que uma viagem de metro em Berlim custa €2,10 e uma de comboio de 30 ou 40 minutos na Suiça custa €20 euros ida e volta. E eu paguei este!

Por isso se me pedirem uma receita mágica dir-vos-ei:

- Hospitality Club (acima de tudo)

- viajar à boleia

- comprar comida no supermercado e cozinhar (um gelado de uma bola nas ruas de Barcelona custa €2 enquanto que um litro de um maravilhoso gelado de chocolate no LIDL custa €1,79)

- andar a pé o máximo possível pelas cidades

- trabalhar, se possível, para ganhar algum dinheiro e não ter só gastos.

Mas não comi comida em casa de outras pessoas? “Se calhar foste um pouco parasita, não?

Comi em casa de outras pessoas, comida que elas tinham. Mas em primeiro lugar, porque me ofereciam elas comida? Porque eu as cumprimentava com um sorriso. Um sorriso que foi constante nesta minha concretização de um sonho. Sim tinha e tenho motivos para estar feliz. E assim estou e sou para as outras pessoas. Cumprimenta o mundo com um sorriso e ele te devolverá outro sorriso.

Por outro lado não passava o dia sentado no sofá a passar canais na TV. Quase todos os dias, quando estava alojado em casa de alguém que me recebera de boa vontade, começava e acabava o dia lavando loiça. Se cozinhar não é a minha melhor qualidade, posso dizer que a prática de lavar loiça foi bastante afinada. Varrer o chão, regar as plantas, ajudar a cozinhar, pôr a mesa. Há mil e uma maneiras de ser prestável. Tudo começa num sorriso.

Sempre disposto a ajudar aqueles que me ajudaram também. Sempre disposto a ajudar e a ser simpático para aqueles que relutantemente me ajudaram ou que não me ajudaram por medo. Que motivos tinha eu para não ser simpático?

Na pior das hipóteses passava uma noite a ler numa bomba de gasolina e a dormir abraçado à minha mochila. De resto, estava a concretizar um sonho. Que motivos tinha eu para não estar feliz?

Pensem nisso… Pensem nesse número. Trezentos e um euros e sessenta e seis cêntimos em dois meses. E não estive fechado em casa. Não. Tive o Verão da minha Vida! Tive uma experiência insubstituível e sem a qual não seria o Miguel que sou hoje. Como disse o Vitor, “um Miguel mais sensato”. Por €301,66!

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Durante dois meses vivi muita coisa.

Estive sozinho e estive acompanhado.

Com pessoas parecidas comigo e com pessoas completamente diferentes.

Passeei por cidades fantásticas e passeei dentro de mim.

Fiquei a conhecer um pouco de culturas. Fiquei a saber muito mais de mim.

Desejei abraços. Desejei sorrisos. Chorei por uma mão amiga.

Vibrei quando recebia um sorriso na rua. Tudo o que me deitava abaixo se dissipava com um sorriso.

Esperei por vezes horas por uma boleia mas um simples sorriso de alguém, mesmo que de carro cheio e não me podendo levar, bastava para perceber que a espera tinha valido a pena.

Percorri quilómetros de estrada com vistas fantásticas e fiz-me viajar quilómetros mais dentro de mim.

Vivi uma experiência inolvidável. Uma experiência que está ao alcance de qualquer um. Uma experiência que tu podes viver também.

Não deixes que a Vida te empurre. Não deixes que os outros decidam por ti. Não deixes de realizar os teus sonhos se os desejas mesmo. Precisas de dinheiro para concretizar aquele sonho? Começa a trabalhar já! Queres alguma coisa mas há muita papelada no meio? Começa a chatear já. Envia mails. Telefona. Vai lá. Mostra que queres e que não vais desistir. Mostra a ti próprio que não vais desistir. Vive os teus sonhos.

Como disse, e bem, uma grande, sorridente e quente amiga minha:

“Desenmerda-te e faz pela Vida!”

Concretiza os teus sonhos. Não te deixes enterrar por eles. Não te deixes sufocar pelo desejo de os concretizar. Não te deixes ficar sentado no sofá.

Levanta-te, desliga a televisão, abre as janelas da sala. Respira o ar fresco.

Pega numa mochila, num caderno e numa caneta. Faz-te à estrada. Qualquer que ela seja.

Agarra a Vida com as tuas próprias mãos. Ela é tua e é só uma. Aproveita-a. Vive-a como TU queres. FAZ O QUE QUISERES! Carpe Vitae!!!

Queria que este blog acabasse com 12 capítulos. Sem motivo aparente. Talvez as horas do dia. Talvez os meses do ano. Talvez muita coisa mas é um número que para mim tem significado.

No entanto o blog fica com onze capítulos. Onze capítulos sobre a minha Viagem. Talvez não tenha acabado.

Fica um décimo segundo capítulo por escrever.

Mas agora não serei eu.

Este blog começou por ser um veículo de notícias. Passou para uma mensagem para amigos. Agora percebo para quem este blog realmente é. Percebo o porquê de ter começado a escrever mais que no meu próprio caderno. Este blog não é para mim nem para a minha família ou amigos em especial.

É para abanar quem passar por ele e se der ao trabalho de o ler. É para fazer questionar e pôr em causa objectivos e atitudes. Para abalar e fazer ondas. Isso é tudo o que posso fazer. Contribuindo para estilhaçar esse alicerce fica o meu papel concluído. Depois cabe a cada um ver e perceber o que quer e, a partir daí, agir.

Este blog é para ti.

O décimo segundo capítulo fica à espera.

E tu? Não tens sonhos?


Agora é a tua vez.


Entretanto continuo a sonhar. Continuo a concretizar. Continuo a conhecer-me e a VIVER! Com o mapa da Europa colado numa parede. Com o mapa do Mundo na outra. A sonhar sempre. E a cumprimentar o Mundo com um Sorriso. Sempre. A viajar…


E tu?




De um viajante,

Miguel de Sousa Mendes

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Depois disto tudo, queria-te dizer qualquer coisa que fizesse sentido neste contexto... fiquei o dia todo sufocada com palavras que teimavam em não sair até que peguei num caderno e numa caneta à tarde e eis o resultado, um resultado que espero que te permita dizer "missão cumprida"!

Para mim existem vários tipos de sonhos e vários tipos de sonhadores. Aqueles que mais admiro são os que lutam em busca de um sorriso que surge mesmo cá de dentro, aqueles que olham para além daquilo que se pensa ver e que possuem a melhor prenda que existe: um sorriso tranquilo, especial e verdadeiro! Esses sonhadores (e viajantes...) têm um pensamento "para além de" (do conformismo, da convenção, das normas que impõem um percurso, etc) e é isso que os leva a voar e a libertarem-se das correntes que os aprisionam e que silenciam o seu pensamento, as suas ideias. Sem dúvida alguma és um desses sonhadores.
As pessoas vivem fechadas num mundo em que se centram apenas na sua "imperial" (uma analogia perfeita que encontraste), mas percebi o quão importante é olhar em redor, mesmo que tal seja longe demais, o quão importante é sentir e admirar as pequenas coisas. Comecei a olhar primeiro para os que estão mais perto e percebi a distância que me separava deles. Depois comecei aos poucos a alargar os horizontes, a enfrentar os receios (apesar de persistirem). Apercebi-me de repente da imensidão do mundo e das coisas que existem e que desconheço, da beleza presente num minúsculo ser, apercebi-me da pequenez de cada um de nós. Uma pequenez que pode aumentar de tamanho a partir do momento em que seguimos os nossos sonhos, em que conhecemos outras realidades, a partir do momento em que ajudamos uma pessoa a chorar para que depois seja capaz de sorrir, a partir do momento em que libertamos um animal que nos pede ajuda com olhos de desespero, olhos esses que depois se tornam brilhantes e dizem "obrigado". Foi tudo isto que me permitiste perceber, foi este o resultado das tuas palavras em mim, foi este o resultado de ter segurado a tua mão e que, mesmo com um enrome medo, fui segurando timidamente.
Todas as tuas palavras fizeram-me crescer, acordaram-me de uma "vida" onde me sentia aprisionada por um dia ter desistido de lutar e de sonhar. Voltei a encontrar esses sonhos, voltei a ter esperança, voltei a olhar para mim e a sentir vontade de sair da minha esfera, a sentir vontade de voar, a acreditar e, acima de tudo, voltei a conseguir sorrir! O próximo passo é organizar as minhas ideias e concretizar alguns sonhos que me mostraste serem possíveis...

Precisava de dizer a importância que tudo isto teve (e tem) em mim, a importância das palavras que ficaram aqui registadas e de muitas outras que registei cá dentro e que guardei num cantinho muito especial. Foi isto que aprendi contigo e muitas outras coisas que me são impossíveis de explicar assim mas que agradeço imenso!
E agora sinto-me com forças para lutar, sonhar e, quem sabe, viver... maspara isso fica aqui pertinho, I need you :) Um obrigado do tamanho de todas as sensações boas que carregas contigo multiplicadas com as que me conseguiste transmitir a somar com muitos sorrisos. Um obrigado que tentei mostrar através destas palavras "insignificantes" que senti necessidade de te escrever. OBRIGADO =)

De uma sonhadora que "ressuscitaste",
Filipa

October 11, 2006 10:40 PM  
Blogger Catita said...

Também eu parei, precisava de um ponto de viragem, das duas uma: arriscar ou ficar deprimida. A vida nem sempre me foi risonha, mas isso não me fez desistir, muito pelo contrário, deu-me mais força para avançar. Sempre olhei para o lado positivo, tirar o melhor partido de tudo o que a vida oferece. A minha “loucura” não foi tão grande quanto a tua, mas os efeitos finais têm semelhanças (também eu mudei.). Chamo-lhe “loucura”, mas sei que somos pessoas sãs, talvez mais ainda que o resto, abrimos os olhos e saímos da esfera mecânica da nossa sociedade.

Estava farta que me desapontassem, de sequer pensar que não podia confiar nas pessoas. Confiar nos outros é das melhores qualidades de qualquer humano, sem qualquer dúvida. Percebi que não podia parar só porque as pessoas com quem me tinha cruzado não eram pessoas boas, mas quase marionetas que viviam apenas para a sua sobrevivência, nas viviam para si, e muito menos para o mundo. Não era isto que queria. Não é isto que quero!

Então parti, não fui à boleia para fora, não tinha um objectivo definido, mas sabia que era capaz de ser mais forte ainda, se acreditasse e realmente o quisesse e me empenha-se a tentar. Depois de mais uma decepção na minha vida, aventurei-me, fui à boleia para um festival, conheci pessoas fantásticas que mesmo quando só as conhecia a apenas uma hora, senti que fariam para sempre parte da minha vida, nem que fosse na recordação de todo este momento. Mas chegados ao festival, nunca mais me separei deles, nem quando encontrei pessoas amigas, ou mesmo na generalidade rostos conhecidos.

Com aqueles desconhecidos, passei um dia inteiro, uma noite inteira, um dia seguinte inteiro até novamente ser noite e me deixarem em casa. Com eles estava livre, não os conhecia, eles não me conheciam, podia ser eu, e com tudo, eles receberam-me, sem questões, sem porquês, sem satisfações e sem lições de moral (nem pela minha loucura, na verdade todos me felicitaram por a ter seguido, disseram que gostaram de me conhecer… senti-me a pertencer a um grupo!).

Ainda hoje nos damos bem e tão bem! Passo com eles mais tempo do que quaisquer outras pessoas e com eles já tenho tantas recordações, tantos bons momentos, mas não cai num erro antigo, os amigos não são dados adquiridos, são relações de conquista mútua. Sempre percebi isto, mas com quem me relaciono nunca deixei espaço para ser conquistada. Não era demasiado “dada” apenas “obvia”. Com eles vivo e não deixo de existir, de ser quem sou. Sem ilusões. I CAN SEE CLEARLY NOW THE RAIN IS GONE.

É verdade são as viagens que mudam um pensamento, uma pessoa, uma vida, toda uma nova perspectiva.

Acredito nas pessoas, sempre acreditei, já me decepcionei e feri, mas ainda assim continuo a acreditar nas pessoas e nas capacidades extraordinárias que têm… mas nem sempre o sabem…

Também eu “acredito que as pessoas são boas” e concordo contigo quando pensas que as pessoas têm essencialmente medo.

Duplico os obrigados do comment da Filipa :)

Amigo, tenho imenso orgulho em ti, para sempre (mesmo que “sempre” signifique mesmo muito muito tempo.

October 18, 2006 12:06 PM  
Anonymous Anonymous said...

"Deixa que o mundo siga a sua aventura
Deixa que o homem retorne à sua casa
Deixa que a gente se entregue à sua riqueza
Mas tu, tu vem e segue-Me
Tu, vem e segue-Me.

Deixa que o barco erga as velas ao vento
Deixa que encontre o afecto quem está preso a si
Deixa que da árvore caiam os frutos maduros
Mas tu, tu vem e segue-Me
Tu, vem e segue-Me.

E serás luz para os homens
E serás como o sal da terra
E num mundo deserto abrirás uma nova estrada
E por essa estrada vai, vai e não olhes atrás
Vai e não olhes atrás..."

Deixo aqui um cântico que muito me toca e que me parece adaptar-se muito bem a ti...
Não te conheço há muito tempo, mas é fácil de perceber como és diferente...como vês para além do óbvio...como tens a coragem de dizer SIM a um chamamento...
Só te desejo toda a sorte e entusiasmo do mundo para o novo projecto que vais abraçar...é tão bom saber que há quem acredite que é possível mudar o mundo, mesmo que por vezes o que fazemos possa parecer insignificante...mas o que é preciso é coragem para começar...e continuar, um dia de cada vez.
Espero que continues a semear muitos sorrisos...e a colher risos, gargalhadas, abraços!

Ângela

December 04, 2006 10:14 PM  
Anonymous Anonymous said...

nao me conheces mas descobri o teu blog e li e reli as tuas palavras uma a uma... és um lutador, um exemplo a ter em conta =) parabéns * *

January 07, 2007 4:24 PM  
Blogger Patanisca de Bacalhau said...

Quando estive em Budapeste durante 15 dias este verão, conhecí uma miúda da Macedónia que se virou para mim e disse: "fazes-me lembrar a Frida Kahlo", ao que eu perguntei de seguida: "pelo bigode e pela mono-sobrancelha?", e deu-se a risada total. Foi o melhor elogio que poderia ter recebido. Era uma miúda reservada, que se tinha virado para o luteranismo, apesar da ortodoxia dos pais. Tinha umas feições bonitas, como aquelas actrizes italianas dos anos sessenta. Descobrimos que ambas gostamos de ler livros da TASCHEN.

Nuns armazéns antigos transformados em bares repletos de cachimbos de água, perto da única mesquita que há na cidade, conheci um americano, judeu. Tinha ido pedir-me lume: "I like your tennis shoes", uns da Gola às bolinhas cor-de-rosa. Era fotógrafo, com barba que lhe fazia aparentar mais do que os 23 anos que me disse ter. Falámos de Mathew Barney e de um documentário que ambos tínhamos visto (eu no Indie Lisboa) sobre uma fotógrafa americana que foi para a Índia, onde acabou por ensinar fotografía a crianças. A conversa não deu para prolongar porque tive de me ir embora.

Nesses 15 dias conheci pessoas de 16 países diferentes. Não sabia em que bairro viviam, que carro tinham, nem lhes identificava a marca nas roupas. Apenas tínhamos uma, e uma só coisa em comum: a candidatura àquele curso. As afinidades que criámos eram por isso bem consistentes e verdadeiras. Gostávamos uns dos outros porque tínhamos o mesmo sentido de humor, ou porque conversávamos sobre coisas que gostávamos. E por esses 15 dias chorei na despedida, porque sabia perfeitamente que nunca mais aquilo iria acontecer. E porque nunca mais me iria sair da memória os que partiram depois de mim, a acenar-me, pelo vidro traseiro do táxi, sabendo que nunca mais iria estar com aquele grupo, todos reunidos de novo.

Quando voltei a Lisboa, voltei cheia de medo: "não quero voltar a pensar da mesma forma, não quero voltar a fazer a mesma vida, e voltar a imbuir-me nas castrações sociais e éticas duma cultura mesquinha e retrógrada, não quero voltar a pôr as palas nos olhos", porque lá fora vi um espírito inovador, aberto, desenvencilhado e desacostumado. E o bichinho ficou, se já havia, agora acordou!

Há uns anos atrás achava que o mais importante era ter um T3 em Telheiras, andar de BMW e ter uma Bimby. Achava que a minha vida era essa, como é a de todos os que me rodeiam: casar e ter filhos, ter as amigas com que tomamos café de vez em quando, e ter as férias no Algarve todos os anos. Foram talvez uns recifes de corais na Austrália que vi num documentário que me abriram os olhos pela primeira vez. Depois veio Paris com o museu D'Orsay, Berlim, Barcelona e por fim Budapeste. Veio o interesse por arte, arquitectura, e hoje em dia passo os meus tempos livres sentada na Fnac a ler quando falta-me trocos para levar o livro para uma esplanada. Depois veio a noção que a minha casa não é em Lisboa, e que a minha vizinhança não são os portugueses. Não me chega. Não é nada. É como se comprásses uma casa e não saísses para conhecer o teu bairro, durante toda a tua vida. Não interessa o carro, e sim uma máquina fotográfica e muito tempo disponível para conversar com quem te queira contar excertos das suas odisseias. Não interessa a casa, e sim a hospitalidade pelo mundo fora, que há tanta!

Por enquanto, os meus bolsos só me deixam ir por Europa (ainda me falta muita coisa por ver!), mas mal comece a ganhar, começarei por Buenos Aires, Chile e Perú. Depois vem a Índia e o Nepal, e para me dar por satisfeita antes de morrer, Trans-siberiano a parar na Mongólia, chegar ao porto de Vladivostok e apanhar uma barco até ao Japão.

Como vês Miguel, não és o único. Eu não sei se a ideia é encontrar-me lá fora. Mas como diz Jostein Gaarder no Mundo de Sofía, eu sou como uma pulga dum coelho que quer trepar até ao topo do pêlo para tentar ver o que há fora da cartola. As outras, as que estão "cosy and warm", ficam para trás!

Até logo!

January 31, 2007 4:09 AM  
Blogger inês said...

Queria-te só dizer que são quase duas da manhã e vim parar ao teu blog por portas travessas e li muitas linhas, mas ficaram muitas outras por ler. E que pronto, pus o teu blog nos blogs favoritos e olha que são muito poucos... O que significa que vou voltar para ler mais, a horas menos adormecidas. Até já, Inês

September 19, 2007 1:39 AM  
Blogger Inês said...

Miguel,

Nem sei por onde começar. Descobri este teu blog ontem à noite enquanto pesquisava acerca do EMBL e tentava justificar a minha candidatura ao PhD. Também eu sou fascinada pela Biologia e estou convencida de que é a Ciência mais bela do Mundo. Também eu fico de “pé atrás” quando penso que a minha vida se poderá resumir a uma bancada e a uma miríade de pecinhas que parecem de brincar. Também eu começo a perder o entusiasmo pelas imagens (lindas, é verdade) que obtenho no microscópio de fluorescência. Também eu não me conformo com um emprego das nove às cinco – não sinto a diversidade e dinamismo que me cativaram para a Biologia. Também eu tenho o mapa do mundo colado na parede em frente a mim. Também a mim me chamam “o sair, a cultura diferente, os ares, as gentes, as línguas”. Também eu, já há muito tempo, adicionei o site volunteersouthamerica.net aos meus favoritos. Também, também, também… Só não posso dizer “também” quando falo da tua coragem e determinação. Admiro-te profundamente e, mesmo não te conhecendo, percebo a tua essência. És tão como eu e tão aquilo que eu queria ser… revi-me naquilo que escreveste – poderia ter sido eu a escrevê-lo. Se o teu blog estivesse em formato de livro teria sido, com certeza, um dos que mais gosto me daria folhear. Escreves bem. Muito bem. Sem pretenciosismos. Tudo limpo, genuíno e poético. Fizeste-me lembrar Patrick Süskind em muitos trechos.

A minha vez para uma analogia (ainda que fraquinha): a minha máquina está presa em metafase; o meu checkpoint é demasiado empenhado e ainda não me libertou para a anafase; estou a tentar desmantelar os microtúbulos; já se veêm tubulinas a flutuar… 

Boa sorte para o teu projecto na Casa do Caminho. Fico a torcer por ti.

Inês Amorim

December 09, 2007 7:46 PM  
Anonymous dianacrespo13 said...

Olá Miguel..Não te conheço de lado nenhum,sou apenas mais uma pessoa deste mundo que te viu na SIC Mulher hoje e me apaixonei pela tua vida,pela tua viagem, pela tua coragem, pela força com que segues o teu coração e os teus sonhos..Apesar de só hoje ter lido o teu blog e apenas li o último capítulo, adorei..vou grava-lo nos meus favoritos para ir lendo..tal como tu tenho imensos sonhos, imensas paixões, mas a vida às vezes desilude-nos e temos de ter essa força, essa coragem..que tu demonstras ter e muito importante também..um sorriso para partilhar!
Gostava de ter um contacto teu, nada pessoal, apenas a tua história me marcou! Acho que são pessoas assim que valem a pena, alguém que sonha e luta pelo que o faz feliz! Eu também sou um bocadinho assim, mas ainda não tive essa coragem toda de sair de casa de mochila às costas pronta pa explorar o mundo! :( Mas acho que tu ajudas um bocadinho a ganhar essa coragem!
Por isso..se quiseres partilhar algo mais comigo: dianacrespo13@hotmail.com
***Tudo de bom***Sorri sempre***Luta plo que te faz feliz***Sonha muito e..realiza os teus sonhos!***Sê muito feliz!***

March 31, 2009 9:42 PM  
Anonymous Andreia, Porto said...

vim aqui ao teu blog também por causa do programa da Sic Mulher. infelizmente ouvi pouco. estava no fim a entrevista. nem sabia q o Pedro Abrunhosa tinha feito tantas viagens! Para mim, nesta vida tão curta, o mais importante é viajar, conhecer outras culturas, etc. O dinheiro que vou ganhando é para ir viajando. Ainda não viajei mto. Apenas Paris o ano passado (avião). Este ano fui aos EUA sozinha. Por motivos de trabalho tive a oportunidade de ir a Miami a uma formação. Fiz por ter uma grande escala em NY pois assim podia ir a Manhattan (na vinda). Bem, fui sozinha para Miami e depois sozinha para NY. Organizei as coisas sozinha. Quis pagar o menos possível do meu bolso. Sei que muita gente não tinha a minha coragem, de certeza. Não ganho € nada de especial, por isso quando tive esta oportunidade, não a ia perder claro, apesar de ir sozinha. Andar sozinha é a única coisa que lamento, pois é sempre bom termos com quem partilhar tudo aquilo q vemos, mas também foi bom. Falei com várias pessoas em NY e Miami. Um dos gerentes do hotel em q eu estava em Miami era português (mas já vivia lá há 30 e tal anos) e foi tão bom finalmente ouvir português :D Foi um desenrascanço mesmo esta viagem, nos aeroportos, nos transportes, com as pessoas, etc. foi tudo tão intenso q mesmo depois de voltar ainda estava a digerir a viagem de ida. Porto-Lisboa-NY-Miami, 20 e tal hrs de voos e esperas, pessoas, etc. Só tinha andando de avião o ano passado p Paris. Em NY fui fazer uma tour de bus, falei com pessoal q me via sozinha e perguntava de onde era, falei com os guias, com os motoristas das carrinhas supershuttle q eu tinha pedido. Para mim, esta viagem foi uma grande experiência pois fi-la sozinha e é diferente quando fazemos uma coisa assim sozinhos ou acompanhados. Não andei à boleia pois paguei os transportes mas o q fazes, tb gostava de fazer. Sozinha é q acho q não :S
continua!
andreia, porto

April 03, 2009 4:26 AM  
Blogger PP said...

Bem também eu vi o programa da Sic Mulher! Estou neste momento a fazer Erasmus em Barcelona desde Setembro e durante estes meses tudo aquilo que tens escrito tambem eu tenho sentido... A vontade de viajar, de olhar em volta, de falar em volta e o ter que ser eu propria a tratar de tudo, de me desenrascar mas ao memso tempo de me descobrir e de crescer cada vez mais! Planos,viagens, sonhos... ainda tenho vários! Aos poucos e poucos vou tentando realiza-los sempre sempre com a vontade de ir lá para fora, de conhecer, de voar...

Boa sorte!! e continua a partilhar os teus pensamentos que são os de muitos mas a quem lhes falta a coragem de dar o primeiro passo!

Patrícia

April 04, 2009 10:37 PM  

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