26.9.06

Capítulo X – O derradeiro teste…

Abro o meu mapa da Europa em cima da mesa. Pego na caneta que me acompanhou e pouso a ponta na Invicta. Traço uma linha que segue para Sul. Contornos, rectas e curvas, descendo o país chego a Lisboa. Levanto a ponta da caneta. Cheguei. Olho o mapa uma vez mais. Consegui. Sinto orgulho… Sinto força e sonhos a brotar em mim. Sim, consegui.

Mas voltando um pouco atrás…

Depois de uns dias em Frankfurt chega a hora de partir. Seguir caminho, voltar a casa e passar para um próximo caminho na minha Viagem.

Meia-noite. Faltam duas horas e meia para sair de casa. Conto os minutos. Ansioso por chegar a casa. Por chegar a Portugal.

O tempo demora a passar. A minha anfitriã dorme.

Saio de casa às 2.45. Ela leva-me até à estação de comboios. Aí apanho a camioneta que me leva até ao aeroporto. Chegada prevista para as 4.45. Ligo a música e adormeço.

Chegamos. Mochila às costas. Check-in. Tempo de espera. Algum. Oiço música e escrevo.

Penso na viagem. Penso no que foi e em como nunca imaginaria há uns meses atrás estar neste aeroporto e tendo feito o caminho que fiz.

O avião levanta voo. Esqueci-me de como era voar. Onde está a magia da estrada? Voo sem falar. Sem companhia para a viagem. A estrada tem mais encanto. Paisagens, gente, conversa…

Parece que demora uma eternidade a chegar ao Porto. Entretanto troco sorrisos com os companheiros do banco de trás. Sinto uma aura boa neles. Sinto gente boa neles. Sim, acredito nas pessoas. Cada um tem o poder de decidir com que atitude enfrenta a Vida. Eu acredito!

Chegamos ao Porto e a iniciativa parte dele. Pergunta sobre as malas e eu continuo falando de viagens. A Vida mostra-nos oportunidades. Cabe a nós aproveitar esses momentos. Agarrá-los e interferir com a Vida. Parar o curso normal da água e falar com o do nosso lado.

Gente simpática. Estudantes. Sim viajei à boleia. Eles vieram de um InterRail.


Despeço-me. Deixo o contacto e a sugestão do Hospitality Club (dias depois venho a saber que ele se inscreveu… missão cumprida).

De metro vou para a Campanhã. Perguntam-me uma vez mais por Lisboa. “Não sei mas é uma cidade bonita.” Percebi como não conheço a cidade onde vivo. A mudar…

No Porto tomo pequeno-almoço com um membro do Hospitality Club. Não sem antes conhecer a minha futura companheira de viagem.

Chego à estação da Campanhã. Sou abordado por um sorriso de mochila às costas. “Vais para Lisboa?” “Sim mas não de comboio. Vou à boleia.” Pergunta se pode vir também. Claro que sim. És bem-vinda!

Pequeno-almoço com o Bruno. Passamos para o lado de Gaia e temos uma vista sobre a Invicta. Hora de partir.

Após estudo (incompleto) escolho a rotunda do Freixo como ponto de partida.

45 minutos passam sem que tenhamos boleia. Um senhor recomenda apanhar a camioneta ou o comboio. “São só 15 euros.” Vacilo… Se daqui a duas horas ainda aqui estivermos eu cedo. Até lá tenho um objectivo a cumprir.

Levanto o dedo e escrevo numa folha “A1 (Lisboa)”

Um carro pára. Até Gaia? Mais perto da A1? Claro que sim. Vamos.

Depois de muita conversa somos deixados numa estação de serviço. Considero a hipótese de ir até Leiria dentro da caixa de um camião TIR. A eslovena diz logo que sim. Felizmente encontro um lisboeta que volta a Lisboa. Boleia? Se compartirmos as portagens.. Primeira vez que me pedem dinheiro pela boleia. Claro! Por que não? É justo.

Muita, muita conversa. Gargalhadas e um pouco de casa no Português lisboeta que ele fala. Sensação boa. Temos umas horas pela frente por isso conversa não falta.

Chegamos a Lisboa e somos deixados frente à FCUL. Obrigado por tudo. Bom resto de viagem.

O carro parte. Grito. Grito tribal de alegria. Grito de SIM CONSEGUI!

Viajei à boleia em Portugal. Avisem nas ruas. Gritem pelos bairros. Gritem pela juventude de todo este país. É possível. Não só é possível como é uma experiência única. Libertem-se. Soltem-se. Contra todas as expectativas. Contra tudo o que m foi dito. Contra a maré consegui nadar. Contra a maré remei. E sim, cheguei onde queria. Porque lutei pelos meus sonhos. Porque os sonhos, quando são alimentados são mais forte que uma tempestade. Porque os sonhos estão à nossa frente. Porque os sonhos estão a um passo que só nós podemos decidir dar. Um só passo. Cabe a cada um realizá-los. Eu lutei pelos meus. Olho Lisboa e digo-lhe “Olá outra vez. Bom ver-te.” Sim cheguei a ti como queria. Bem-vindo de novo e parabéns, diz-me ela.

Sinto que as pessoas ficam felizes quando viajam comigo. Que vêem com os próprios olhos alguém que persegue os seus sonhos e os cumpre. Sentem-se bem e com sorte vão para casa com um sorriso pensando que não teriam tido aquele momento bom se não tivessem parado para me dar boleia. Sinto que ficam felizes quando se cruzam agora comigo e pensam: "Ele viajou à boleia pela Europa. No ano 2006 ele remou contra a maré e lutou pelos seus sonhos." Talvez se sentem de novo no sofá mas agora com alguma coisa a fazer comichão. A não deixar o mesmo sofá de sempre amolecer a força dentro de cada um. Mudo um pouco das pessoas. Mudo um pouco do mundo.

Deixo a minha companheira de viagem no metro do Campo Grande. Ano de ERASMUS pela frente. Boa sorte e boa Viagem.

Enfim rumo a minha segunda casa, já que as chaves para a primeira ficaram em cima da secretária. Afinal de contas, em dois meses em Barcelona para que precisava eu de chaves de casa?

Passo pelo Museu da Cidade. Encontro duas grandes amigas. Caminho para elas. A mochila vai para o chão. Gosto muito de ti mas nada substitui o abraço quente da amizade. Seguro-as. O mundo pára. Sim voltei para aqueles que me sentem no coração. Que me querem por perto e bem. Sim, o sorriso apodera-se de mim aí para não mais se soltar nos dias que se seguem.

Entro cada vez mais nas entranhas da FCUL. Cruzo-me com um senhor a quem devo muito. Agarrar oportunidades, não é? Ele estendeu-me uma fantástica oportunidade há ano e meio atrás. Abriu as mãos, envoltas de um sorriso, e mostrou-me o Hospitality Club. Obrigado Fernando. Também sem ti não seria a pessoa que sou hoje.

Caminho para o coração da FCUL: o C2. Pelo menos o coração que bate para mim e por mim.

Lá encontro um sorriso calmo. O mesmo sorriso apaixonado que me recebe quer esteja longe um dia ou dois meses. Sim um sorriso que me recebe e sem proferir uma palavra me diz: “Bem-vindo a casa. Bom ver-te e bom saber que estás feliz.”

Momentos depois o quadro muda por completo. Sou avistado. Os olhares passam por mim. Os músculos congelam. O cérebro envia o sinal. A manada vem. Os olhos cheios. Uma vez mais a mochila vai ao chão. Aliás, cai ao chão, pois não tenho quase tempo para me preparar. Sou atacado por abraços, olhares, sorrisos, beijos, mãos amigas que me acolhem e me mostram admiração e amor ao mesmo tempo. Vidas que me mudam e que eu mudo. Uns põem-se mais de lado. Não querem a confusão. Querem o meu par de olhos virados para eles. Todos os sentidos sintonizados neles. Sim, também eu quero isso Vítor. Também eu vos quero muito, com todos os meus sentidos.

O que desejei aconteceu. Fui recebido por aqueles que me corriam no coração enquanto viajava. Alguns desses ficam por ver mas no dia seguinte certamente que tropeçarei neles e receberei outro grande abraço (verificou-se pois no dia seguinte a Marta vem a correr para mim como se não houvesse amanhã e dá-me o maior abraço que alguma vez recebi dela). Difícil expressar o que isto me faz sentir. Difícil perceber o quanto estas pessoas significam para mim e eu para elas. Como um salto para cima de mim e um grande abraço me fazem sentir pequeno frente a tanto carinho. E sim, é para mim este carinho. Sim é para mim que vêm estes abraços. São meus e eu não sabia.

Adoro-vos, do fundo do coração e desejo que estejam sempre lá. Sempre cá, dentro de mim e eu de vocês.

Aos poucos vou encontrando olhares conhecidos, que me fazem sorrir e retribuem com um outro sorriso. Sim, é essa a minha linguagem. Todo o mundo me recebe bem assim. Eu recebo o mundo assim. Com um sorriso. Um por fora e um por dentro.

(o sono começa a assaltar o meu corpo…)

Conversas. Como foi. Como vai ser. O que é neste preciso momento. O que sou. Quem sou. Sim, voltei mais sábio. Digo-o sem falsas modéstias. Sim, voltei mais conhecedor. Sim, voltei com mais claridade e diferente. Tinhas razão Vítor. “Vai. Vai e volta um Miguel mais sábio.” Todos me deram uma palmada e me sorriram quando estava de partida para dois meses de trabalho em Barcelona. Esse sentimento foi multiplicado por dez agora que volto de um mês de viagem de boleia após outro em Barcelona. Sim, segui o meu sonho. Sim agarrei a oportunidade que me foi proporcionada.

Hora de rumar ao ninho. Hora de saciar as saudades de uma mãe que foi mantida na incógnita e na dúvida acerca da minha chegada, como a maioria das pessoas.

Chego a casa. Luzes apagadas. Mãe telefona e pergunta triste “Quando vens?” Respiro fundo e minto: “Não sei. Estou a passear.” Dói mas em breve passará. Mãe nas compras. Volto mais tarde.

Ao voltar só a minha irmã está em casa. Um abraço forte. Voltei. A mãe?

Escrevo “Casa?” no meu caderno dos destinos e prendo no sofá. Desligamos as luzes da casa e acendo um candeeiro virado para o caderno. Mãe leoa chega. Chama por mim. Ruge por mim. Abraça-me. Chora. Quase me bate. Alegria, dor, medo, orgulho, tudo de uma vez. Tudo comprimido durante dois meses e que rebenta agora. Explode em choro. Choro que recebo com um sorriso. Agora estou cá. Estou mais em mim que nunca. Estou cá ao pé de ti. E tu de mim.

Conversa pela noite fora. Mãe não pergunta muito da viagem. Não faz questão de saber pormenores. Não tem que saber o que foi para mim. Sabe que vai saber com tempo. Sabe que em mim as coisas vão assentar com o tempo. O que ela quer saber lê nos meus olhos. Vê em mim rebentando por todos os poros. Também eu saberei quais as consequências desta Viagem com o tempo e com a Vida e com o que ela me traz. Mãe fica a falar e no dia seguinte agradece pelo serão de conversa.

Vou me deitar. Volto ao meu quarto. Não é meu. Não sou eu. Vai passar a ser. Amanhã começo a mudança. Mudei por dentro. Vou mudar o que me rodeia. Vou me mudar. Depois de ter começado por dentro de mim começo agora nas camadas seguintes da cebola que me envolve. O meu quarto vai mudar. Vai ser o meu quarto. Amanhã compro uma cama nova e monto-a amanhã. Também uma agenda que se começa a encher de eventos culturais. Viver mais a minha cidade. Conhecer a Cinzenta. Conhecer a cidade onde tenho vivido de olhos fechados. Conhecer e dar a conhecer quando estiver preparado. Mudar a minha vivência nesta bela pequena grande cidade. O resto da mobília seguir-se-á. Começa agora a mudança.

Uma nova quebra na minha Vida. O novo ponto de viragem. O último foi no Verão de há dois anos. Agora sou confrontado com outro. Em constante crescimento. Em constante mutação.

Mudei. Voltei diferente. Voltei com estórias para contar. Com sentimentos para sentir. Com um sorriso maior e olhos que viram muitas coisas.

Voltei para mim e para vocês. Voltei para mudar a minha Vida e para virar uma página da minha Vida retomando, ou melhor reconstruindo, o meu presente.

Voltei para abraçar e sorrir com os que me querem.

Voltei para mostrar que basta lutar e os nossos sonhos estão a um passo de distância.

Voltei, acima de tudo, para mostrar que é possível.

Pronto para mudar a minha Vida.


Dois meses e muita Vida depois, voltei.

23.9.06

A transbordar...

As lágrimas correm.

Palavras amigas perguntam: "Tás cheio (de alegria, de vida, de tudo)?"

As lágrimas correm quando falo, quando conto, quando penso, quando escrevo.

Coisas para contar. Pensamentos. Sorrio quando lembro. Sorrio quando a minha cabeça pensa freneticamente no que escrever. Sorrio quando olho olhos que conheço. Sorrio quando vejo nas caras que realmente olham para mim como alguém que fez acontecer. Sorrio quando alguém me diz: "O teu blog fez-me pensar."

Não estou cheio. Estou a transbordar.
Tanto que não consigo evitar que as lágrimas corram.

Frankfurt, a cidade dos arranha-céus...





















Adeus minha linda... Adeus Berlin...




Cidade de mil e uma coisas... Cidade sem identidade... Cidades dentro de uma só... Uma casa ocupada no meio de muitas... Vidas pintadas na parede...

Gostei de te conhecer Berlin. Foi um prazer...









A minha viagem foi possivel por diversos factores. Sim, tive coragem. Sim, tomei a iniciativa. Sim, foi o gatilho de algum tempo de sonho que foi despoletado aqui e agora. Sim, eu aproveitei e atirei-de do arranha-céus.
Mas nao fui só eu. Atrás de mim tinha maos a empurrar, bracos a levantarem-me quando eu caía. Sorrisos quando eu olhava com medo para trás. Muitos. Muita gente que enviava um mail e dizia: "Tenho orgulho em ti. És uma inspiracao."
Mensagens enviadas que me fizeram respirar quando eu estava mesmo mal, olhar em frente e pensar em palavras amigas: "Dizes que não te sentes bem aí. Sentias-te melhor aqui? Decidir voar custa... Conseguir ficar também... Lutaste pela viagem... Luta pela estadia... "

A todas essas pessoas. A todas essas fantásticas pessoas. A todas as palavras que recebi. A todos, obrigado. Sem o vosso apoio duvido que alguma vez teria conseguido.

"Só voa quem consegue fazê-lo" Obrigado Filipa.


Mas esta última foto é para uma pessoa em especial. Uma pessoa que aparentemente não conhecia e continuo sem conhecer. Uma pessoa em quem tropecei e que estendeu os braços. Uma pessoa sem a qual tenho a certeza absoluta que nada disto teria acontecido. Uma pessoa que sem dizer muito, de longe sorria e torcia por mim. Uma pessoa que moveu mundos para que eu tivesse feito o que fiz. A essa pessoa uma vénia. Mil vénias. Um bem haja. Um grande obrigado. Mil obrigados.

Obrigado. Obrigado. Obrigado.

Obrigado, Margarida.

20.9.06

Viajar por dentro...

O que e que deve reger o nosso futuro?
O que e que deve reger o nosso presente?

"Tens que estudar, acabar o 12o com boas notas, entrar num curso bom, acabar o curso, fazer um doutoramento, um post-doc, arranjar um trabalho, trabalhar, trabalhar, trabalhar, subir na vida, trabalhar, ganhar dinheiro para alimentar a tua familia, sair de casa as 7 e voltar as 19 para jantar e ir para a cama descansar para as 6.30 do dia seguinte estar a pe. Isso sim e o que tens de fazer na tua vida. Isso sim e o teu plano de vida e o objectivo pelo qual te deves seguir. Assim sim seras feliz."

Quando e que nos olhamos para dentro?
Quando e que temos tempo para nos?

"Tens que isto e isto e isto."
E se nao correr bem? E se falhar? E se chumbar um ano? E se escolher mal e quiser mudar?

"NAO! Nao podes falhar. Nao te podes enganar. Escolheste mal? Olha agora fazes ate ao fim. Ao menos ficas com o canudo na mao.
Isso sim e ser feliz."


Todos nos ensinam a lidar com o sucesso. Os filmes mostram-nos como o bom ganha sempre. Nos jogos olimpicos vemos sempre o 1o a correr com a bandeira nas maos.

E o que ficou em quarto? E o mau que perdeu? E quando falhamos?
E quando nao corre bem? E quando os planos nao funcionam?

Quem e que nos ensina a lidar com a frustracao? Quem e que nos faz pensar?
Tens que ler, ler, ler, ler, decorar e depois deitar tudo ca para fora.

E pensar? Nao, nao, nada disso. Ter que saber dizer exactamente aquilo que eu quero que digas.


Pedem-nos para saber responder. Nao nos fazem saber perguntar.

Toda a gente nesse fantastico pais tem medo de perder um ano. Parar um ano.
Um ano que tantos paises cedem aos seus jovens. Um ano para pensar e experimentar. Olhar para dentro e lidar com o que somos.
Nao importa olhar so a volta de nos. E importante olharmos para nos tambem. Sabermos quem somos. Como somos. Como reagimos com o fracasso. Como somos quando o medo vem. As lagrimas. O sofrimento.

Parar quando? Quando tiver 65 e me reformar? Parar ai quando o corpo ja nem responde bem e nao me deixa fazer o que eu quero? Sera que essa e a altura para parar?

Ate la somos empurrados pela manada da productividade? Somos varridos com o resto dos 160 que entram no mesmo curso que nos?


Nao. Viajo pela Alemanha e ja toda a gente viajou meses fora de casa. Toda a gente se libertou de uma forma ou de outra. Por que e que nos nao viajamos? Porque e que nos nao vamos conhecer o nosso pais e o dos outros? Porque e caro? Nao nao e. Eu nao gastei quase dinheiro nenhum em 2 meses de viagem. Basta ter os olhos abertos.

"A sorte vai de encontro com aquele que a procura"

Todos nos temos que parar, experimentar, viver sos e sem ajuda. Ver como e. Ver como somos. E isso pode ser aos 65 anos mas quanto mais cedo formos independentes em nos mesmos mais cedo construimos um mundo forte em torno de nos. Mais saude damos a nossa vida e as nossas relacoes. Mais valorizamos o que temos e o que pelo qual lutamos. Uma folha que cai ou um sorriso de uma crianca. Aquilo a que nos pudemos agarrar quando estavamos sozinhos e em busca de pequenos focos de calor. Um sorriso. Calor

Ou pelo menos e o que sinto que esta viagem me ensinou.

18.9.06

Sonhos...

Quantas pessoas batem palmas quando um conhecido seu mostra que realizou um sonho, e viveu o que realmente desejava, e depois voltam para casa e sentam-se no mesmo sofa onde se sentaram todos os dias dos ultimos 20 anos?

14.9.06

Capitulo IX - Uma estoria que se aproxima do fim... Mas ainda com muito para sorrir...

Sozinho em casa uma vez mais. Nao desesperantemente. Nada disso. Muito pelo contrario.

A minha irma e o namorado acabam de partir de malas as costas. A jornada deles acabou por aqui e estao de retorno a casa. Fecho a porta. Silencio total. Bom e mau. Mas o mau e muito pequeno.
Ate daqui a uns dias Rita.

Peco ao Carlos Paredes para animar um pouco a minha manha recem-comecada.

Ontem comecou uma nova pagina da minha viagem. Encontrar uma pessoa fantastica. A primeira pessoa que hospedei em casa pelo Hospitality Club. Experiencia que ficou no coracao e na carne.
Chegou ontem e nos proximos dias terei uma outra companhia para passear e principalmente falar.

Alguns minutos de conversa quando chegou ontem. Seguidos de momentos de desconforto (huuuummm e agora?? O que e que digo?). Pouco tempo depois a conversa toma o seu rumo, os sorrisos soltam-se. Passeios, conversas, planos e trocas de experiencias.

Agora, finalmente, posso parar. Parar para ler. Parar para pensar. Parar para escrever para mim. Uns dias sempre a correr. Sair de casa cedo. Chegar a casa tarde. Fome e cansaco. Vamos para a cama que amanha e outro dia. Compreensivel. Eles tinham pouco tempo ca e estavam com vontade de visitar muita coisa. Eu, com gosto, fiz companhia.

Estranho como e diferente andar sozinho e escolher as ruas e que viro e andar com outros e sobre a vontade de outros. O cansaco psicologico de nao saber ao certo quando se para e ate onde se vai. Cansa, mata. No inicio da tarde ja estava completamente morto e as pernas gritavam por um sitio para sentar. Cansaco acumulado de muitos kilometros pela Europa fora.

Tudo segue um timing bom. Saboroso. Saboreado aos poucos como um quadrado de chocolate branco que se dissolve na boca. Aos poucos. Sem datas. Sem stress.

“Entao e tu ficas ca ate quando?” Sorrio... Boa pergunta... “So tenho uma data fixa, a do aviao. De resto posso fazer o que quiser, quando quiser.” Sensacao boa. Sorriso correspondido. “Kein stress.”

Os dias passam e eu por eles. A amiga vem com tempo para mim. Optimo. Existe um plano mas completamente maleavel. Dependente do que me disser o coracao. Ele tem o poder de veto, e usufrui deste sempre que preciso. Quem sou eu para contestar.

Do outro lado (agora ja nao so da peninsula iberica mas um pouco mais longe) gente que me apoia, que me ajuda. Gente ate que de querer ajudar ja levou raspanete na secretaria da faculdade. Sim porque quando quero algo chateio, relembro, faco questao de fazer saber que nao vou dar um passo atras quando o meu futuro esta envolvido. Entao peco a algumas pessoas que vejam como estao as coisas quando tiverem tempo. Na secretaria ja devem ter um boneco voodoo meu...

Dias passam, sorrisos largam-se e recebem-se.
Destino final caminha para mim. Nao. Eu caminho para ele. A velocidade que quero e pelas ruas que quero. Geralmente as com menos turistas. Paro para olhar, olho para tras e sorrio. A Cinzenta em breve estara tambem tracada no meu mapa da Europa.

Ate ja.




P.S.- A embaixada de Espanha ligou-me no dia 8 de Setembro a avisar que o papel ja estava pronto. Quase dois meses depois de o pedir. Supostamente demorava 2 semanas. Viva a competencia, a eficiencia e a burocracia neste pais.

Os arredores... Potsdam...





















Os maus velhos tempos...





















Beleza que surge com o renascer de uma cidade...





Potsdamer Platz...









Berlin, cidade de gente...






Isto que aqui se ve e a casa de banho de um bar de ocupas... Um edificio em constante mudanca.
O que veem que parecem lavatorios sao na verdade urinois. E como podem ver a decoracao e.... peculiar.





Homenagens aos judeus... Para que ninguem se esqueca...






















11.9.06

O frio comeca a fazer parte de mim...

Berlin.

Ja alguns dias passaram. Nao sei quantos. Nao sei quantos faltam. Perco a capacidade de ter nocao da passagem do tempo aqui.

Certamente em casa estarao muitos a dizer: "As ferias foram boas mas curtas." "As aulas comecam ja daqui a uns dias."
Ai e? Nao sei. Nao sinto isso. Nao penso sequer. O tempo nao passa e passa a correr. Passa na velocidade ideal diria mesmo. Acordei ao meio dia, menos tempo para aproveitar. Nao ha problema...

Aos poucos um novo sentimento cresce em mim. O de regresso.
Nao por pena. Nao por saudade (mas sim alguma saudade de sorrisos e abracos que estao na ponta da Europa).
Simplesmente sentimento de missao cumprida. Sim, isso mesmo. Missao cumprida.

Voltarei a casa inteiro. Aulas logo a seguir e nao vira um sentimento de queria mais. Mais seria "desnecessario". Missao cumprida, vamos agora passar para a proxima viagem.

E que viagem sera essa? Nao sei. Ao longo da viagem descobrirei. Certamente uma viagem para decidir qual a proxima, onde, quando e como.

Por agora os passeios continuam. A saudade de uma amiga berlinense que teima em nao vir.
O calor de uma irma que nao veio ao meu encontro mas sim para o mesmo sitio que eu.

O sorriso, a gargalhada, o falar na rua e no metro. Cozinhar e comer acompanhado.

Caminha sem ser eu a tracar o caminho. Deixar-me levar pela vontade de outros. Claro que sim, voces so estao ca mais uns dias. Depois eu vejo o que me "faltar". Levem-me mas nao me cansem demais porque depois de um mes e meio de andar as minhas pernas ja pedem algum descanso e gritam ca para cima:

"Missao cumprida!"

5.9.06

Capitulo VIII - Sozinho em Berlin...

600km de viagem.. Alguma tensao quando um grupo de dois rapazes e uma rapariga que me deu boleia me diz “Ah se ficares aqui ficas um bocado mal porque esta auto-estrada esta virada para Sul e vai ser dificil encontrares quem te leve para Norte (perto de Nurnberg). Nos vamos a casa buscar umas coisas, demoramos meia hora e depois vamos para a Austria, por isso podemos deixar-te na direccao corecta.“
Nao deixa tar. Eu prefiro ficar na auto-estrada. Seguranca acima de tudo e em caso da minima suspeita, diz Nao.

Fico na estacao de servico. Alivio quando saio da carrinha.

Um casal simpatiquissimo que entrou de ferias e vai para Strasburg decide fazer um desvio de algumas dezenas de km para me deixar na A9 direccao Norte - Berlin. Obrigado. Super simpaticos. Sim, eu prefiro acreditar nas pessoas. Existem pessoas boas e eu acredito que serao a maioria. Mesmo as que nao me dao boleia serao provavelmente boas mas tem medo de aceitar um estranho potencialmente perigoso no carro. Eu percebo. E agradeco sempre desejando boa viagem. Por isso e que faco a barba.. Para parecer menos vagabundo…

Quando sai de casa para seguir viagem para Berlin, olhei para as ruas e percebi: “Merda, sair de casa num Domingo de manha para ir para outra cidade nao foi boa ideia! Quem e que se levanta num Domingo de manha para se meter na autoestrada?” Felizmente mais tarde corre melhor porque ha muita gente a voltar para casa de fim-de-semana.
Sair da cidade parecia vir a ser dificil.. Ainda por cima porque estava a mais de 10km da auto-estrada. So com um golpe de sorte conseguiria sair de Tübingen de manha.

Bomba de gasolina. Jipe grande. Casal de 60-70 anos… Dificilmente conseguirei mas vale sempre a pena tentar. Pergunto ao senhor (pergunto sempre ao conductor…) Diz-me que lamenta mas nao pode. Previsivel. Ha que tentar com outras pessoas. Mas ao lado deste estava a sua esposa. Falou com ele. Sai do carro e diz-me “Podes vir” Ele vai comprar algumas coisas e ela fica na conversa comigo. Sempre boa ideia tentar perceber com quem se esta a lidar. Eu nao tinha medo pois com a idade deles provalvelmente estavam a passear e nao representavam grande ameaca para mim. Ja para eles e diferente. A idade enfraquece. Fragiliza. Eu posso ser uma ameaca.

E por que mudaram de ideias? Ela. Ela tambem viajou a boleia quando era mais jovem. Fica na pele. Fica no sangue. Fica nos ossos.
Passaram a noite em Tübingen porque queria ver o museu da Mercedes em Stuttgart mas os hoteis estavam cheios por causa do Alemanha - Irlanda. Pela primeira vez, obrigado futebol.

Viagem continua. Dormi imenso. Estava cansado. Estive em 7 carros diferentes. Em 3 destes as pessoas fizeram um desvio na sua viagem para me deixarem num sitio melhor para apanhar a boleia seguinte. Podiam semplesmente ter-me deixado num sitio pior e ja assim ter-me-iam feito um enorme favor. Mas nao. Ajudaram-me. E dizem que isto e perigoso! Eu acredito nas pessoas. O mundo pode ter muita coisa podre mas tem muita coisa boa.

Um casal cujo conductor nao conduzia la muito bem (mas quem sou eu para ser exigente se ja me estao a fazer um favor?) deixou-me a entrada da antiga Alemanha Oriental. De seguida pergunto a uns suicos se me levam ate perto de Berlim. “Sim. Claro. Sem problema.” Uma vez mais digo, o melhor e viajar com casais. Nesta viagem, tirando o grupo de tres, foram todos casais.
Entro num carro jeitoso, comeca a viagem. Logo a entrada da auto-estrada percebo que ele gosta de acelerar. Felizmente tem um carro bom. Se tudo corer bem chegamos a Berlin bem depressa. Adormeco. Descanso. Casal pouco falador. Eu tambem porque estou cansado. Acordo. Viajamos a 220km/h. Conducao segura. Carro estavel. Optimo. I´ll be there in no time!

Fico perto de Berlin. Encontro outro casal. Duas criancas. Mostram-me fotos. Amam-se. Ve-se bem e e bonito. Sorrisos, caricias, quimica. Juntos ha pelo menos 10 anos e demonstram em cada 3 minutos o porque de estarem juntos.
Falam comigo sobre Berlin. Sobre viagens.
“Porque Berlin? Nao percebo” diz ela. “Os alemaes sao teimosos. Sao brutos.”
“Berlin e uma cidade muito grande. E numa cidade grande, uma pessoa encontra-se varias vezes sozinha.“ Diz ele. “Em Berlin existem muitos emigrantes. Existem pessoas que nao gostam. Existem problemas. Ha que ter os olhos sempre bem abertos. Pricipalmente quando se viaja sozinho.“

Eles estao mesmo preocupados. “Tiveste muita sorte em nao ter problemas viajando a boleia. Um amigo meu ja teve problemas duas vezes e numa delas foi parar ao hospital.”
Ve-se na cara deles medo. Medo de que os seus filhos de 10 e 9 anos crescam rodeados de mal.
Mas porque estao em Berlin, entao? “Berlin e uma cidade de muitas oportunidades. De muitas possibilidades. Em Berlin encontra-se tudo o que se quer. Quando ja nao somos tao jovens (imediatamente leva uma chapada dela) ja nao e tao agradavel. Por isso e que vivemos neste bairro de casas pequenas e mais nos arredores de Berlin.”

Acima de tudo, atencao. Olhos bem abertos e cuidado.

Deixam-me na entrada do metro. Obrigado por tudo.

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O meu contacto nao me responde. Nao tenho chave de casa.

Entro no metro de Rudow. Compro bilhete enquanto falo com uma rapariga que decidiu fazer-me sentir benvindo a esta cidade. Chega o metro. “Espero que te divirtas em Berlin. Boa viagem.”

Sento-me. Na outra carruagem sentam-se 4 rapazes “suspeitos”. Daqueles que me fariam atravessar a rua em Lisboa. Aqui entao. Olho para a minha enorme mala (a que aprendi a amar e que aos poucos deixa de ser desconfortavel nas costas), percebo que estou vulneravel. Uma enorme etiqueta a dizer “Turista” e o peso da mala sao obstaculos. Sinto-me vulneravel.

Chego a estacao. O meu contacto nao atende. Outra e outra vez. Finalmente atende. Aparece na proxima estacao. Ok, vou agora. Entro no metro. Poso as malas. Entram quarto rapazes de cabelo rapado e brincos e todo o aparato. Tenho medo. Pego nas minhas coisas. Aproximo-me de um grupo de homens. Sim, estou sozinho e com uma enorme mala. Tenho medo. Nao medo da cidade. Nao medo de nao gostar ou de ficar desiludido com a cidade, como ha uns dias atras. Tenho medo pela minha vida. Entro no metro. Tudo ok. Saio, encontro o Oli. Chave na mao. Entro no metro que chega 5 segundos depois. Obrigado. Adeus.

Vou para casa. Entro. Tranco a porta com chave e duas trances. Nao me sinto be. Tou apavorado.

A cidade e enorme. E desconhecida. Tem ameacas. E quase noite. Se tivesse chegado duas horas depois ou tao tarde como em Zurique, morria de medo.
Poso a mala. Tou em casa. Olho a volta. Que casa linda! Aquece um pouco. Entro no quarto da Sarah, minha amiga, e vejo um pouco dela nas coisas do quartos. De repente sinto-me um pouco melhor. Um pouco mais quente. Mais calmo. Casa tao bonita. Tao pessoal. Como ela diz: “Pode nao ser o bairro mais lindo de Berlin mas a nossa casa e de certeza uma das mais lindas.” E tem razao. A casa acalma-me.

Sento-me. Lagrimas. Tudo forte demais. Medo de nao aguentar. Senta-te. Para. Acalma. E noite. E compreensivel que estejas assim. Ligo musica. Respiro. Vou escrever. Nao. Ainda nao. Acalma. Abro o meu mapa e acabo de tracar o caminho para Berlin. Cheguei a Berlin! Desafiei-me e venci. Estou aqui. Desde o momento em que me desafiei a vir percebi que conseguiria. Comeco a conhecer os meus limites.. Melhor, a ultrapassa-los. A caneta percorre o caminho. A memoria percorre a viagem. A caneta entra na cidade de Berlin. Estou aqui, em Berlin.

Sonhei com a historia. Sonhei com as imagens que via. Sonhei com a cultura e com uma cidade que 16 anos depois da queda do Muro continua a procura da sua identidade. Sonhei com tanta coisa. Esqueci-me de sonhar com as pessoas que ca vivem. Esqueci-me de sonhar com os problemas que existem.

Jantar. Escrevo. Filme? Comeco mas nao me apetece. Espirito demasiado aos trambolhoes para ver um filme. Olho para dentro. Vou dormir. Amanha passeio. Obrigado musica por me fazeres sentir bem. Air.

Acordo. Tomo banho. Como. Tenho que ir as compras, que lavar a loica e regar as plantas (prometi a Sarah que o faria). Arrumo as coisas. Visto calcoes (ha muito que nao o fazia.. chuva e frio). Arrumo a mala. O livro fica. Hoje tenho muito para andar e ver. Nao vou parar para ler. Nem sequer conseguia.
Saio a rua so com a minha mala de tira colo. Agora sim estou seguro. Sou eu. Nao tenho etiqueta. Nao me visto como um turista. Ando como se a cidade fosse minha. Agora sim, sinto-me mais seguro.

Saio. Metro? Nao. Hoje nao. Por agora tenho que caminhar. Ver as ruas. As pessoas. O lixo na rua. Os sinais. As conversas. As vistas “famosas” aparecem no caminho.
Ruas que no mapa parecem pequenas aqui demoram meia hora a ser percorridas. Sinais que indicam os locais turisticos e as distancias a que estao. 1500 m, 500m, 750m, 2500m. Cidade enorme. Caminho quase sem parar. Acabei de estimar no mapa. Ontem fiz, pelo menos, 20km a pe. Que abuso. Ruas que parece que nunca mais acabam. “Entao? Ainda nao e desta?!”

Vejo tanta coisa.

Cidade tao bizarra. Nao tem uma unidade. Uma identidade. Tem varias. Sao varias cidade numa.
Predios baixos. Ruas largas. Ve-se o ceu como se fosse uma cupula. Que imagem linda. Cidade tao bizarra e tao bonita. Cidade que guarda nela um mundo. Imensas culturas. Tanta coisa. Indescritivel, na verdade. Sento-me. Tiro fotografias. Passeio. Viro no bairro mais pequeno. Raramente vejo os turistas. Eles vao ao posto de informacao e dizem “Estou ca durante um dia. Da para ir a Potsdam e ver a cidade de Berlin tambem?” Eu caminho por sitios que nem estao nos mapas deles. Por Berlin. Pelas ruas de Berlin. Berlin nao e so a Unter den Linden.

Sempre a andar. Aproxima-se a noite. Prefiro ir para casa. Jantar num restaurante que a Sarah recomendou. Sento-me e sinto-me perto dela. Sim, este sitio e a cara da Sarah. Faz-me sorrir. Durante o dia troquei uns sorrisos com pessoas que ca vivem. Existem pessoas boas.

Volto a casa. Jantar. Filme? Um pouco. Nao me apetece mais. Ler um pouco. Ver um pouco sobre Berlin. Amanha tenho mais um dia. Vou dormir.

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Acordo tarde. Como. Hoje almoco em casa e escrevo. Sao agora 14h. Vou sair daqui a pouco. Passear por ruas diferentes. Amanha compro bilhete de 7 dias de metro. Hoje ainda nao. Preciso de ver. Olhos abertos. Caminhar sem musica. As fotos deste Verao ja chegam quase as 400.

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Uma amiga chama a minha ajuda. Esta agora sozinha e tem alguns problemas com isso.
Nao e mau. Temos que aprender a estar sozinhos. Ou melhor.. Temos que aprender a estar conosco. Aprender a gostar de estar conosco. Viver conosco. Decidirmos e vivermos como queremos.

Uma amiga minha passou exactamente pelo mesmo este verao e ela ja tem mais alguma experiencia de vida que eu. Mas teve que aprender a estar sozinha. Milhares de km entre nos mas viviamos o mesmo. Ela em portugues, eu em catalao.

Sim amiga, temos que aprender a viver conosco. A nossa felicidade nao esta dependente de estarmos com alguem. De acordarmos com alguem. De sorrirmos com alguem.
A nossa felicidade tem que comecar ca dentro. Tem de comecar dentro de ti e dar entao alicerces e bracos para que possas abracar os outros. A nossa felicidade deve, em primeiro lugar, estar dependente de estarmos conosco mesmos. De acordarmos conosco. De sorrirmos sozinhos.

So se formos felizes com quem somos e que poderemos, em pleno, projectar isso nos que nos rodeiam. Seja o senhor da pastelaria, seja o nosso melhor amigo, seja a pessoa que acorda ao nosso lado.

Nao e facil estar sozinho. Nao e facil acordar e nao ter objectivos para o dia. Nao e facil nao ter com quem falar durante um dia inteiro. Estou acordado ha 3 horas e ainda nao disse uma palavra. Ontem estive horas sem fim na rua sem proferir uma unica palavra. Tratamento de choque talvez. Mas aprendo a estar comigo. Aprendo a conhecer-me. Tenho tempo para isso. Se calhar se estivesse com alguem podia partilhar o que sinto. Decidi sair sozinho. Talvez hoje meta conversa com alguem. Talvez consiga alguem com quem falar e com quem goste de falar. Nao e facil chegar a casa e nao ter ninguem.
Por vezes nao quero tar na rua mas tambem nao quero tar em casa. Mas foi um desafio que lancei a mim proprio. Foi um desafio que percebi que tinha que vencer se realmente quero sair de casa, sair de Portugal, sair da minha vida.
Entrei numa cidade com 3,5 milhoes de habitantes. Por vezes e dificil somente fazer planos para o dia seguinte pois a cidade tem um tamanho de tal maneira avassalador…

Podes escolher viver sempre com alguem ao teu lado. Os pais estao sempre la. A familia esta sempre la. Os verdadeiros amigos estao sempre la.
Mas e tu? So estas la se eles estiverem? E isso que tens de descobrir. E a melhor maneira e faze-lo sozinho. Lutar com as tuas maos. Vencer com as TUAS maos. Nao imaginas a alegria que me deu sair de Barcelona ainda com 60 euros na mao sabendo que nao tinha gasto nada que nao tivesse ganho. Foi a minha luta. Foi a MINHA vitoria.

Sim tenho saudades de algumas coisas. Ja ha algum tempo que nao sinto saudades de casa. Que nao penso em Lisboa nem em como seria se la estivesse. Nao penso porque estou ca e sei que estar ca e mil vezes melhor para mim do que estar em Lisboa. Nao por Lisboa ser melhor ou pior mas sim por eu estar aqui, sozinho, a lutar.

Sim, tenho saudades. Do que mais tenho saudades e de um abraco e de um sorriso que eu conheca. Sim nao e facil estar sozinho. Mas estou mais forte. Faz-te mais forte. Faz-te conhecer os teus limites.

Es capaz de estar e viver sozinha numa cidade estranha? Nao sabes? Entao experimenta.

4.9.06

Berlin...


Escrita pouca.

Viagem correu optimamente. 600km em 8 ou 9 horas. Mudei varias vezes de boleia mas por vezes saia de um carro para entrar logo no seguinte... Ou viajava a 220km/h nas autoestradas alemas sem limites de velocidade.

Por fim, feita a viagem. Berlin.



Por toda a cidade vemos no chao a marca de onde estava a Muro que separava Berlim Ocidental
do resto da Alemanha Oriental.

































2.9.06

Cap VII - Em busca de sitio para pousar...

Tübingen...
Sai de uma cidade pequena. Passei para uma metade da anterior.

Esta viagem e para mim tambem uma procura por um sitio onde ficar. Seguir conselhos sabios. Procurar cidades universitarias. Polos de conhecimento. Ponto de encontro de muitas coisas, muitas ciencias, muito conhecimento.

Procura de onde quero ficar nos proximos tempos. Lisboa nao e opcao, Portugal nao ta na lista. Entao onde? Tempo para pensar. Nao tanto para me comecar a candidatar.
Entao por que nao ver alem das fotos que tao na net. Por que nao visitar de facto as cidades de que se fala? Ca estou. Olhos abertos, ouvidos atentos.

Heidelberg? Por que nao? Pequenita mas engracada. Talvez um ambiente quente e amigavel. Cultura q.b., paisagens, bicicletas... A considerar...
Tübingen? Ai ja fica mais dificil.. Parece uma enorme aldeia de bonecas, onde tudo esta cheio de cores e pintadinho. 60000 pessoas e muito pouca pessoa para quem vem de uma cidade com 600000 (sem contar com arredores). E a cidade nao me chama. Nao me encanta.

Sim, tem sitios bonitos para ver. Sim, deve ter um ambiente academico mais intenso que o de Coimbra. Sim, deve ter muita coisa mais que obviamente um dia so nao me deixou ver...

Mas sinto que nao e para mim. Nao tao pequena e abonecada. Turistica...
Bonita de se ver mas so por uns dias. De passagem. Nao para viver...




Sim tem umas Bäckerei fantasticas.. Da vontade de comer tudo o que esta na imagem.. E acreditem que havia muito mais e com igual ou melhor aspecto.. Ate agora do que vi da Alemanha parece que eles tem disto em todo o lado.











Mas preciso, neste preciso momento de muito mais que isso... Pessoas, actividade, dinamismo, viver, cheirar, crescer, olhar ao longe e repirar fundo.

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Berlin aproxima-se de mim como eu dela. Ou dele? Masculino ou feminina? Masculino, acho. Assim o sinto pelo menos.

Ha um ano que sonho com visitar a cidade. Desde ha um ano que tem vindo a crescer em mim uma paixao irracional e infundamentada por uma cidade que nunca visitei. Tanta coisa aconteceu e esta a acontecer naquela cidade. Acho que e isso que me seduz e me deixa ser levado pelo seu aroma.

Mas agora que a hora se aproxima de conhecer esta gigante cidade, sinto fascinio e pavor.
Medo de nao gostar. Medo de ser um soco no estomago. E se for? Ridiculo especular ou questionar. Amanha la estarei para ver. Com os meus proprios olhos e tocar com as minhas maos onde ha 16 anos estava um muro que separou gentes, familias e amigos durante 40 anos.

Fico la uns tempos largos. Mais do que escolhi em qualquer das minhas passagens. Ali nao sera passagem. Sera ficar pouco tempo. Mas cheirar, ver, ouvir. Sempre. Descobrir a cidade e descobrir-me a mim nela.

O que e Berlin? Porque esta estupida paixao? Amor platonico? Mas eu nem sequer olhei uma vez que fosse para a cidade. Fotos, net, imagens. O que isso comparado com um varrer de olhos pela Alexander Platz? Nada, e uma imagem fria. Pessoas, bicicletas, metro, verde, vida.

3.400.000 habitantes. Segunda mais populada cidade da UE. O que me espera?

Despedida de Heidelberg...



Minha companheira de viagem km fora pelas estradas da pequena Heidelberg. Travoes que nao funcionam, roda de tras torta, fuga no pneu de tras, selim demasiado baixo, chia por tudo o que e pedaco de metal...

Duas rodas e nao polui.
Perfeita!



Sim, esta e a tipica imagem de Heidelberg...
Mas eu tinha que a por ca porque muita gente nunca ouviu falar da cidade e
parece-me que esta viagem vale a pena ser vista, independentemente
de nomes ou localizacoes no mapa...




Benedikt. Bene para os amigos. B so para alguns.
E isto o Hospitality Club! Ajudar quem viaja. Trocar ideias. Confrontar culturas. Aprender sobre a cultura do vizinho. Trocar cozinhados. Sorrir, acenar e desejar boa viagem.
Ate a proxima vez, algures por esse mundo fora.


(www.hospitalityclub.org)

Heidelberg... Momentos sem chuva...